domingo, setembro 30, 2007

Early Night Posts (33)


Secret Painting (Ghost), 1968, Colecção Berardo, Centro Cultural de Belém


Tenho que confessar que quando a joaninha me lançou o desafio, era o livro de Martin Page aquele que estava mais próximo. Simplesmente só tem 160 páginas!
Fica, agora, uma citação dessa obra que ainda não existe na língua pátria e que, por isso, estou a acabar de ler em inglês. É um livro entusiasmante e muito, mesmo muito divertido. Numa narrativa repleta de humor, vamos acompanhando a vida de Antoine, que, qual Cândido de Voltaire, se vai interrogando sobre a essência da vida e se vai (quase, mas só quase) desiludindo com a natureza humana
.

"Men simplify the world with words and thoughts, and that’s how they create certainties; and having certainty is the most potent pleasure in this world, far more potent than money, Sex, and power all combined. Renouncing true intelligence is the price we have to pay for having these certainties, and it`s an expenditure that never gets noticed by the bank of our minds. In this instance, I actually prefer those who don’t huddle behind the cloak of reason, and come out and admit the illusory nature of their beliefs".

Martin Page, How I became stupid, Penguin Books, p. 59.

Porto de Vista Esclarecida (XIX)

A IP acertou!! Parabéns!
Dizem os livros que esta fonte se denomina Fonte do Rio Frio. Foi, no entanto, baptizada popularmente como Fonte das Virtudes, dada a proximidade do Passeio com o mesmo nome.
Construída em 1619, visou aproveitar as águas que nasciam nas minas em redor e que se acreditava serem dotadas de poderes medicinais.
A imagem de Nossa Senhora das Virtudes, outrora ocupante de um nicho da parede da fonte, desapareceu há já alguns anos.

Do meu e-mail (XI)

Com o alto patrocínio de Lindor Anatómico.

sábado, setembro 29, 2007

Cumprimento

Em estrito cumprimento do desafio:

"- Que dia estranho!"
«Lenda da Água que Beba Dela», in: Gentil Marques, Lendas de Portugal, Lisboa: Círculo de Leitores, 1997, vol. 1, p. 161, l. 5.

Desafio: reinaldo, alf, serenidade, joe, luísa.

quinta-feira, setembro 27, 2007

Desafio

A joaninha escolheu-me como uma das destinatárias de um desafio que, pelos vistos, circula pela net. As regras são as que passo a citar:

"1. Peguem no livro mais próximo;
2. Abram-no na página 161;
3. Procurem a 5ª frase completa;
4. Coloquem a frase no blog;
5. Não vale escolher a melhor frase nem o melhor livro (usem o mais próximo), de preferência não jurídico, ok?;
6. Passar o desafio a cinco pessoas."

Em cumprimento escrupuloso das regras enunciadas e sendo o livro mais próximo "A submissa e outras histórias" de Fiódor Dostoiévski (Editorial Presença, 2006), passo a citar a 5.ª frase completa da página 161: " Porém, apesar de todas as nossas tentativas e dos esforços do nosso jornal, ainda estamos longe da maturidade, como testemunha um facto revoltante ocorrido ontem no Passage e que, aliás, já antes tínhamos previsto".

Antes de dar o 6.º e último passo, tenho de confessar que não costumo cumprir esta espécie de instrucções mesmo quando são acompanhadas de terríveis cominações. No entanto, como o desafio está relacionado com livros, transigirei e não deixarei que a minha teimosia interrompa a rede multiplicadora do desafio. Assim sendo, lanço, o desafio à Thumbelina, à Cláudia Sousa Dias, à Whitecastle, à Verde e temerariamente, é certo, à Rocky.

Porto de Vista (XIX)


(Aqui fica outro desafio dos que me foram lançados por luísa do http://silencioensurdecedor.blogspot.com/ E, entretanto eu vou tentar desvendar o último enigma. :-))

quarta-feira, setembro 26, 2007

À Liberdade

Nascida em manhã clara,
alva ao entardecer da vida,
presença cintilante em
cravo hasteado em peito
combatido já por tantas
espadas, balas, enfim,
palavras…

Li! Verdade!

Gesto em forma de lição
que se dá por dar,
sem imposição,
somente para que dela se oiça
e nela se reflicta
em dia de hoje
de dias viçosos apartado,
mas sempre tão amado.

Li! Verdade!

Liberdade é Palavra
de acção burilada
por experientes mãos de Mestre.

Grande, o Mestre,
Maior, a Liberdade.

F.L.

Sometime later dos Alpha

Do álbum "Come from heaven" (1997) dos Alpha, um som quase celestial ...para o volume III do Best of T&L (sempre com etiqueta Thumbelina Records, claro!)

Portugal de Vista Esclarecida (VIII)


O Duarte acertou mais uma vez!
Esta escultura de Domingos Oliveira apresenta-se como uma homenagem a Amália, ao Fado e a Lisboa.
Denominada Guitarra na Proa encontra-se à beira Tejo, perto dos Museus da Electricidade e da Cordoaria, na Junqueira.

Mosaico



Refracções visuais de uma gostosa rentrée outonal.


Ou recordações em tons de verde (verde, cor, verde, cor, ... ;-))

terça-feira, setembro 25, 2007

segunda-feira, setembro 24, 2007

Duplicidade(s)
















... que do alto da negrura luz fez em cousa sua, arribando vela em cascatas de pedra de longe miradas e que de sagrado respeito pelas sombras enlevadas iam...

Fotos: Cemitério maia, Xcaret, México.

Foto e lema da semana

Foto: vista de um quarto de hotel algures no Iucatão, em fim de tarde de Agosto.

Algures ali onde o céu beija a terra está a força motriz que de invernias faz sonhos ternos de Verão ecoar em búzios longínquos que se estendem em salinas desguarnecidas de tempo.
Ao Tempo guarnece-o com o sal dos Dias; à Terra junta-lhe o azul do céu quando o escuro dos Búzios ameaçar o condão dos ecos.
Quanto ao mais, não decidas muito...
F.L.

Mundo de Vista Esclarecido


Pois ninguém adivinhou na estreia da recém-lançada rubrica Mundo de Vista...
No hoje chamado Estado de Quintana Roo, no México, a cerca de 140 km da famosa estância balnear Cancún, ergue-se a única cidade maia amuralhada e que encara o Mar das Caraíbas com uma fantástca altivez: Tulum.
A imagem que coloquei é do Palácio Real, a mais grandiosa construção de uma série de outras que também se podem contemplar nestas fotos.
O facto de as construções se encontrarem mais próximas dá uma sensação de maior arranjo arquitectónico que não fica atrás de Chichén Itzá, porventura uma maravilha não tão maravilhosa...

Geração


Grant Wood (1891-1942), Daughters of Revolution, 1932, Cincinnati Art Museum, The Edwin and Virginia Irwin Memorial

Geração desencontrada,
desirmanada,
sedenta de Messias
cativantes em altares de fortuna
oscilantes e do género humano
desconfiada.

Ergue-te, ó petrificada!
Acumula em armas as quinas
da História que carregas!
Faz dela viva seiva edificante!
Ultrapassa os comuns lugares
e aspira a um País a sério.

Não! Não aspires!
Há séculos que nada mais fazes
que esperar não seja, sebastianicamente,
cavaquêsmente, socraticamente.
Tempo é de agir herculeamente!

Verás, enfim,
que se não mudaste de geração,
gerado foste em ambiente mais irmanado:
o Panteão dos Deuses infindos
escancarado está; não para o eterno descanso,
mas para o debuxo intermitente de plano
gizado por um geral construtor
que com tudo brinca e vai gargalhando
em sonoros pinchos de bola multicolor
saltitante.

F.L.

domingo, setembro 16, 2007

Bom contágio

Vale a pena ir ao “Contagiarte – Espaço de Sensibilização, Formação e Dinâmica Culturais”, mantido pelo ACARO (Associação Cultural de Artes Organizadas).

O espaço, na decadente Rua Álvares Cabral, 372, é tudo menos convencional. Uma moradia de quatro pisos oscilante entre o recuperado e o em alguns passos, quase em ruínas, dá a impressão de um lugar escuro, sombrio, retirado de um “spot” publicitário de “ocupas”.

Pois, mas é a primeira aparência. Trata-se sim de um espaço onde se sente um ambiente familiar e em que não somos olhados de alto a baixo pelo que trazemos no corpo. O lema parece ser “seja bem-vindo quem vier por bem”. Sem complexos, com a naturalidade de espaços ditos “alternativos”, convivemos com boa música ambiente, um simpático bar e jardim exterior, a que se associam um estúdio de representação teatral, cénica, musical e de dança e, na cave, uma sala para ouvir sons menos convencionais.

Ontem foi a vez da dança contemporânea. “Porto a Solo”, numa organização MC4.

Quatro representações abordaram temas como a liberdade, a repressão, a libertação, a mecanização das sociedades modernas, o desespero, a loucura. Com passos ensaiados que pareciam só improvisações, foram desfilando personagens que ao atraíam, ora causavam repulsa. O longo desfiar de palavras aparentemente sem ligação excepto a aliteração, onomatopeias e outras figuras de estilo causou nos espectadores um sentimento de impotência ante o peso excessivo das palavras e os movimentos contorcionistas do dançarino que, batendo com a mão no peito, reclamava apenas respirar.

O projecto da ACARO é bastante amplo e merece ser acarinhado. Dêem lá um salto e, antes disso, vejam a muito bem construída página na “net”: http://www.contagiarte.pt.

sábado, setembro 15, 2007

Bartók e a imensidão do abismo

Um cenário de sete portas fechadas em clima sombrio num castelo de um duque, de sua graça “Barba Azul”. O nobre e a sua quarta mulher, Judith, chegam ao desejado lar, deixando ela para trás um jovem príncipe. O duque deveras apreensivo com o conhecimento da sua personalidade que o castelo revelará àquela que foi conquistada à meia-noite e que se prepara para descobrir quem é o homem atrás do título nobiliárquico.

Tudo é lúgubre, soturno, triste. Judith reclama a abertura das portas que guardam segredos malquistos, ante um duque que oscila entre o terror e o infindo desejo de se revelar. As portas vão sendo abertas: uma câmara de tortura, uma sala de armas, uma sala de tesouros, um magnífico jardim de flores coloridas, a vista para o Reino, o Império, um lago de águas calmas e cinzentas e, finalmente, as três anteriores mulheres, aprisionadas, misto de realidade e recordação.

Cada uma delas representa fases diversas da vida: a juventude, a idade adulta, a dita “média idade” e, ao que parece, a Judith está destinado o papel de quadratura do círculo, de mulher juntamente a quem se espera a morte em doce enlevo.

O simbolismo é uma constante, através da aparente simplicidade com que Béla Bartók nos brinda. Tida como uma das mais representativas óperas em um acto da centúria passada, nela perpassa um pessimismo antropológico exponencialmente elevado. A Humanidade, apesar dos erros que comete, mesmo deles tendo consciência, reincide. Cada vez mais.

Hino à prisão das fantasias, a um certo “locus horrendus” temperado por períodos de “locus amoenus” em que o sentimento sobrepõe a razão, “O Castelo do Duque Barba Azul” assume-se como obra puritana, como crítica de costumes, ao condenar a riqueza, o poder, a opulência, a crueldade. Mesmo os ambientes naturais são regados por sangue inocente. Incomoda o pecado que Bartók associa a manifestações hedonistas, principalmente em uma época em que o momentâneo é a cultura dominante.

Lembra Soren Kierkegaard, o seu radicalismo religioso, a “ponte” que lançava para o reino do bem, o isolacionismo humano no meio da multidão tentadora. Lembra os castelos em que nos fechamos e de cujas ameias contemplamos altivos o mundo.

A altivez e a proximidade que sentimos da figura do duque humano, finito, imperfeito. Este o paradoxo que trouxe comigo depois de ter assistido a esta ópera na nossa Casa da Música.

sexta-feira, setembro 14, 2007

quinta-feira, setembro 13, 2007

quinta-feira, setembro 06, 2007

Ciao, Luciano!



1935-2007.
O epitáfio apareceu em todos os locais do Mundo no dia de hoje. Luciano Pavarotti não mais foi capaz de lutar. Tudo o que dele se possa dizer sabe hoje a pouco e quase a oportunismo. Realço o facto de ter transformado a canção lírica em algo acessível a todos, para grande desgosto, raiva e inveja dos seus detractores. O bel'canto perde um pedagogo e um divulgador. Perdemos o tenor filho do padeiro tímido que nele projectou o seu desejo de ser uma grande estrela.
Fica, assim, para todos que o amavam, "Una furtiva lagrima".
Ciao, Luciano.

quarta-feira, setembro 05, 2007

Early Night Post (32)


Sandro Botticelli, A Primavera


A propósito da rentrée, e porque tenho alguma dificuldade em gostar do mês de Setembro, fica uma citação retirada de uma leitura de Verão. O teor do livro podia motivar muita discussão, mas fica apenas a referência que nele se faz a este mês de regressos e começos. Para uma reentrada vagarosa na blogosfera!

"Embora esteja tradicionalmente associado ao fim do Verão e à chegada iminente do Outono, Setembro sempre me pareceu um mês de começos, uma espécie de Primavera - possivelmente porque marca o começo do ano académico"

Mohsin Hamid, O Fundamentalista relutante, Civilização Editora, pp. 115.