segunda-feira, novembro 28, 2011

domingo, novembro 27, 2011

Fado

Apenas há um ou dois anos é que me apaixonei verdadeiramente pelo fado. Não por todo, mas por aquele que mais me toca, a começar por Amália e Carlos do Carmo e continuando por Mariza, Mafalda Arnaut, Carminho ou Camané.
Não se explica este gosto, como porventura nenhum outro. Não me parece também que seja sinónimo de estar a ficar mais velho, verdade tão evidente quanto insofismável. É, isso sim, uma parte da nossa maneira de ser. Não pela tristeza e inevitabilidade de um destino trágico. Nada disso. É uma forma de sentir apaixonada, intensa, que sublinha tudo em traços muito grossos e que nos faz sofrer muito, mas também ser muito felizes.
Enquanto verdadeira expressão de um povo, cuja alma capta em muitas das suas dimensões, não pode deixar de ser património imaterial da Humanidade. Mesmo que o não seja, ele já o é no lugar mais importante: no coração de quem o ama. É pouco? É demais.
Exemplo disto é a emoção de Mariza ao cantar "Gente da minha terra", tão apropriado nos tempos de verdadeira crise (há fome no nosso País!) que atravessamos.

domingo, novembro 13, 2011

Veias que latejam


Sinto-te nas minhas veias que latejam,

surpreendo-te nas íngremes escadas da Ribeira,

murmuro “amo-te” quando te espreguiças na Foz,

prostro-me em adoração quando, de Gaia,

contemplo com olhos marejados o casario.

Lavo minh’alma nas alvas roupas

que gente de sotaque carregado

lavou com suor, algumas lágrimas e

uma pitada de orgulho por diferente

se respirar o peso granítico do ar.

Surpreendo-te namoradeiro e rapioqueiro

em ruas de má fama, em pregões desafinados,

em eternos queixumes contra os malandros de Lisboa.

Vivo e convivo com as tuas imperfeições,

esconjuro a tua amiúde pequenez,

o teu provincianismo paroquial.

Logo me dou conta que não fazes por mal,

que são espinhos teus erros,

que mora em ti um coração de Rei que, apaixonado,

to legou e te aclamou invicta.


Sim, Porto, és mesmo tu

quem tanto amo!

Sim, Porto, és mesmo tu

quem se entrelaça no meu ser!

F.L.


GNR: um Vintage de 30 anos

Num país que sempre investiu tão pouco na cultura e que, tradicionalmente, maltrata os seus, comemorar 30 anos de carreira ao estilo rock é, por si só, motivo de orgulho.
Começar a fazê-lo na cidade que viu nascer os GNR e no mítico Coliseu do Porto, tornou o espetáculo ainda mais emocionante.
Passadas em revista as grandes glórias dos músicos, sobrou em charme e cumplicidade. "Pronúncia do Norte" ou "Ana Lee" estão entre os meus temas favoritos . Pena foi que se não tivessem juntado mais convidados a um evento histórico.
Mas a sala estava cheia e o Porto não esquece os seus!


sábado, novembro 12, 2011

Pavio da chama



René Magritte, Os amantes, 1928, Museu de Arte Moderna, Nova Iorque.

Nos teus olhos azul,

na tua boca vermelho,

da tua alma alvo branco.

As cores da paleta do Pintor

acolhem-se a ti em sinfonias,

em bebedeiras de carícias,

em gestos de amorosa tirania.

Dos teus olhos azul,

da tua boca vermelho,

na tua alma branco alvo.

Quando estás longe

uma parte de mim também parte,

esconde-se em montanhas longínquas

onde pássaros do frio esvoaçam

sem rumo, ecoando nesse voo

a falta de ti.

Dos teus olhos azul,

da tua boca vermelho,

da tua alma branco alvo.

Não morres quando fecho os olhos.

Há uma luz ténue que, resoluta,

teima em queimar o pavio com chama.

A luz não me autoriza a dormir,

mas quem precisa de perder tempo

quando ama?


F.L.

sexta-feira, novembro 11, 2011

Bengala do tempo

Tirei a bengala do tempo e o tempo continuou a andar.
Retirei a vida do corpo e o corpo permaneceu a respirar.
Desguarneci de asas o vento e o vento teimou em silvar.
Mutilei a alma em pedaços e a alma insistiu em reinar.
Arranquei uvas à videira e a videira manteve-se fecunda.
Se te tirassem de mim, ficaria muito diferente.
Não és bengala, vida, asas, pedaços ou uvas:
és gente.
E sendo gente, estranho a ausência do teu beijo,
do teu cheiro, do teu abraço, de ti.
Não te tiro, nem tirarei.
Não te retires tu também.

F.L.

Para começar o fds!

segunda-feira, novembro 07, 2011

Händel_Messias_@_ Casa_da_Música

Quem ontem foi à Casa da Música assistir à oratória "Messias" de Händel não deu o seu tempo por mal empregue! É certo que em alguns solistas faltava a força e a experiência, mas o conjunto, em geral, funcionou bastante bem. Uma referência ainda para a encenação, original em uma obra tão tocada.
A Orquestra Barroca da Casa da Música vai, assim, melhorando e, quem sabe, um destes dias estará à altura das maiores da Europa.

Olhar e ver

Olhei e não vi.

Vi e não olhei.

É com os olhos da alma

que se enxerga melhor;

que se mira o importante.

O que se olha com os olhos de carne é acessório.

Com a alma vê-se o humano:

conjunto de defeitos travestidos de qualidades;

massa de qualidades que teimam em ser defeitos.

Olhei e vi

e logo me apareceste atormentada e duvidosa.

Vi e não olhei

e logo uma parte de mim desejou não ver.

Ver e olhar:

a eterna condição e contradição de enxergar.

F.L.