segunda-feira, outubro 24, 2011

"Apneira do sono"


Ontem vi um pouco de Secret story, devo confessar. Tenho a atenuante da melancolia do fim de domingo. Medonho, mesmo. Acompanhei a primeira série do Big brother e aquilo, na altura, pela novidade e pela experiência sociológica e antropológica, tinha piada, até mesmo com o exagero de o jornal da noite da TVI ter aberto com o famoso pontapé do Marco na Sónia.
Agora, os homens são todos musculosos, saídos de ginásios e com cérebros mirrados e elas são todas bem dotadas da cintura para cima, mas muito pouco quando abrem a boca. Talvez seja um retrato do ideal de beleza da atualidade. Da superficialidade e do tipo de conversas que campeiam, quase todas começando por "tipo", "é assim", "prontos", "estás a ver". Isto seria o menos, se o conteúdo das interações não fosse tão oco, tão banal e, por isso, tão desinteressante.
Vende. Claro que sim! Não obriga a pensar e, no final de um dia de trabalho em que se chega a casa de rastos, é ligar o piloto automático e consumir fast TV. Sem mais. Isto não é grave. Grave mesmo é que estes sejam role models para bastantes pessoas.
Então uma jovem chamada Fanny que ontem nos brindou com pérolas como a "apneira do sono" e outras de que me tenho esforçado por esquecer, que supostamente está noiva e que dentro da casa "namorisca" e cujo "noivo" foi ao programa em auto-de-fé de amor eterno, com troca de galhardetes aos "sogros"...
O que me valeu foi que, entretanto, começou a Britcom na RTP 2. E que a minha lerdice de domingo chegou ao limite. Abençoada seja!

Ciclo cinema SOS Racismo Porto


Caro/as amigo/as
O núcleo do Porto do SOS Racismo termina o seu 3º ciclo de cinema, com a exibição do filme "A Esquiva", de Abdellatif Kechiche, seguido de debate, na próxima quinta-feira, dia 27 de Outubro de 2011, pelas 21h30 - cartaz em anexo.
Contamos com a tua presença!
SOS Racismo
Núcleo do Porto

--
Rua do Almada, 254, Direito, 3º Direito
4050-032 Porto



Blog do Porto: www.sosracismoporto.blogspot.com
Projecto VALEUR: www.projectovaleur.blogspot.com
Site Nacional: www.sosracismo.pt
Projecto Interligar: www.interligarproject.blogspot.com

domingo, outubro 23, 2011

Paragem



Salvador Dalí, A persistência da memória, 1931, MoMA, Nova Iorque.

Estancou o tempo.

O nosso amor ordenou a suspensão de Cronos.

A História conheceu um intervalo

único e irrepetível.

Os voos dos pássaros congelaram,

as folhas das árvores deixaram de ondear,

as ondas dos mares petrificaram,

os sorrisos cristalizaram-se em lábios arqueados,

o choro susteve-se, mantendo as caras feias.

O grito do mundo cessou,

as musas deixaram de respirar.

Tu e eu,

naquele abraço eterno

fizemos tudo isto.

Sem processos científicos complexos,

sem decomposições atómicas,

sem tecnologias de ponta.

Apenas com dois corpos que se unem,

com lábios que se entrelaçam,

com vontades soerguidas que tudo podem,

ao menos naquele instante.

Alimentamo-nos de instantes,

bebemos o efémero,

aspiramos ao inconstante, ao diverso, ao que é novo.

Seremos loucos por assim proceder,

seremos pouco avisados por tanto confiar,

seremos humanos por tanto amar.

Sim, seremos tudo isto!

Ser louco, pouco avisado e humano

é o nosso Destino!

Embarquemos nele!

F.L.

quinta-feira, outubro 20, 2011

Cuidara eu



François Gerard
, Psyche Receiving the First Kiss of Love, 1798, Musée du Louvre, Paris.

Cuidara eu do que é a vida
quando enlevado te conheci.
Momento abençoado pelo colibri,
dedo ansioso espetado em ferida.
Cuidara eu do que é o amor
e jamais o viveria.
Cuidara eu do que é a paixão
e sempre a desejaria.
Cuidara eu do que é a dor
e correria para um comprimido
a fim de ocultar a desilusão
de amor deprimido.
Cuidara eu do que é a luz
em teus olhos refletida
e no nosso refúgio andaluz
teríamos fontes de anos de vida.
Cuidara eu do que seriamos nós
e de início apenas veria prós
e aos contras amarraria nós
que desatados jamais seriam,
pois em teu íntimo morariam!

F.L.

Adiemus

Adiemus, de Karl Jenkins. Lindo!

segunda-feira, outubro 17, 2011

domingo, outubro 16, 2011

Genial

Eu bem desconfiava:)))

Excelente iniciativa


No Dia Mundial da Saúde Mental, o JPN apresenta um programa de rádio resultante de uma parceria entre o Hospital de São João, no Porto, e a licenciatura em Ciências da Comunicação: Jornalismo, Assessoria, Multimédia, da Universidade do Porto. "Mais Nozes que Vozes" conta com a participação dos utentes portadores de perturbação crónica, em tratamento no serviço de Psiquiatria daquele hospital, como forma de diminuir o isolamento social associado à vivência da doença. António Roma Torres, director do serviço e mentor do projecto, define-o como uma oportunidade para "dar voz" aos que muitas vezes não a têm.

Ouçam em

http://jpn.icicom.up.pt/2011/10/09/mais_nozes_que_vozes_saude_mental_sem_fios.html

sábado, outubro 15, 2011

E(s)pressão



René Magritte, La reproduction interdite, 1937, Museum Boijmans Van Beuningen, Rotterdam.


Espremi-me por dentro

e da massa de órgãos, sangue, vísceras,

ossos, vasos e veias,

não saiu nenhum líquido azedo,

nenhum pedaço mal digerido,

nada de bílis esverdeada e rancorosa.

Depois de espremer ainda mais,

obtive uma substância da textura do mel.

Porventura não tão doce,

mas mesmo assim adocicada,

despretensiosa e amável,

descomprometida e sincera.

Alimentaste-me de boa seiva,

deste luz ao meu tronco e, assim,

fortificado por ti,

já não sinto rancores, já mal guardo ressentimentos.

Libertaste-me!

E com a libertação veio a paz e a serenidade.

Não criaste um anjo nem um deus,

pois de asas não estou guarnecido

e deus não quero ser –

é tarefa demasiado complexa e aborrecida.

Desfolhaste um ser que ansiava por

sê-lo.

Simplesmente.

Como é.


F.L.

sexta-feira, outubro 14, 2011

Novos tempos



Gustav Klimt. Baby. 1917-1918, The National Gallery of Art, Washington, DC, USA.

O lento borbulhar das ondas

transportou-me às memórias de infância

em que sorrir e rir

eram fáceis como respirar,

em que correr e saltar

eram fáceis como gritar.

Do interior do búzio ressoante em que te

transformaste

permitiste-me regressar a esses tempos favoráveis.

Gostei de me rever de calção de menino

e de camisa à marinheiro,

sujo de terra e coberto de nódoas negras nos joelhos.

Senti carinho pelo que fui.

Não fiquei saudoso nem triste,

apenas verifiquei que se tratou de uma fase da vida

feliz.

Agora urge viver o que o dia de hoje me trouxe.

Melhor ou pior, não sei…

Apenas sinto que é um outro momento,

uma diversa configuração astral se perfila

para me desafiar.

E aos desafios respondo com verbos:

perseverar,

caminhar,

cuidar e, sobretudo,

Amar.


F.L.

quinta-feira, outubro 13, 2011

Junto a ti

Voo para junto das águias

que miram o mundo de cima,

sempre em perspectiva vertical.

Desloco-me para junto dos ursos polares

que se alimentam da brancura do gelo

e da monotonia do silêncio.

Parto para junto de vulcões

onde sofro o vermelho da lava

e contemplo a terra irada, zangada,

aborrecida, estupidificada com a própria terra.

Venho para junto de ti

e apenas encontro quietude, um amparo amigo,

um beijo doce e terno, um afago que regenera,

um conselho que alivia as durezas do dia.

Fico em tua casa. Na nossa casa. Partilho

contigo coisas pequenas, pequeníssimas,

tão insignificantes que, no dia seguinte,

ao acordar e ao mirar de soslaio

o teu corpo nu e depois vestido,

essas minúsculas coisas parecem ser

– são-no, de certeza! –

o magma com que construímos alicerces

e a tinta muito viva com que pintamos

Esperança!


F.L.

quarta-feira, outubro 12, 2011

With you

With you by my side
I sit along the river bank,
I confidently contemplate the tide
and laugh on the sorrow that sank.
In your smile I offer my redemption,
in your eyes my reason for living.
Give me your lips for resurrection,
set your eyes on me for simply being!
Our hearts beat compassed
in a perfect musical symphony.
Let them ride and be surpassed
by the joy filling the air with such a refined melody!

F.L.

Conferência

Profissionais do Espetáculo e do Audiovisual

CONFERÊNCIA

Novo Regime Laboral e de Segurança Social


17 de outubro (2.ª feira), 17h


Salão Nobre, Faculdade de Direito da Universidade do Porto



com


Representantes dos Grupos Parlamentares (a confirmar)

António Capelo (Plateia, profissional do espectáculo e audiovisual)

Mestre Regina Redinha (CIJE, Direito do Trabalho)

Prof. Doutor Liberal Fernandes (CIJE, Direito da Segurança Social)


Moderação:

Prof.ª Doutora Glória Teixeira (CIJE, Coordenadora)

Ada Pereira da Silva (Plateia, Presidente da Direção)



A Plateia - associação de profissionais das artes cénicas e o CIJE – Centro de Investigação Jurídico Económica da FDUP têm vindo a desenvolver trabalho em parceria na elaboração e na análise crítica de propostas legislativas para o setor. Uma das iniciativas mais visíveis foi o documento/proposta legislativa de regime de segurança social, concluído em finais de 2007, em parceria com a GDA - Cooperativa de Gestão dos Direitos dos Artistas intérpretes ou Executantes. Foi publicada em Julho a Lei n.º 28/2011 que revê a Lei n.º 4/2008 e passa também a incluir o regime de segurança social.


Com esta conferência pretende-se esclarecer o novo quadro legal, fornecer aos profissionais do setor os instrumentos necessários para a aplicação da nova lei. Porque só depois de conhecer podemos tomar opções conscientes.


segunda-feira, outubro 10, 2011

Apetece


Hoje apetece-me gritar, a plenos pulmões:

Se dispensássemos as palavras, viveríamos num Éden terreno.

A perfect day:)

Obrigado, D., por este perfect day:)

sábado, outubro 08, 2011

Improviso

Mais um resultado do estado febril:

O improviso é uma mistura de preguiça, sorte e folia.

Internamento compulsivo?

A propósito de "As Serviçais"


Ninguém pode ficar indiferente ao filme “The Help” (“As Serviçais”, na tradução portuguesa). É um raio de um filme que incomoda, perturba, questiona-nos sobre que porcaria somos nós, os ditos “animais racionais”. Apetece saltar do lugar e bater em quase toda a gente que está projectada na tela. Simplesmente isso não adiantaria nada, tal como a luta contra o racismo, a xenofobia e todas as formas de discriminação da diferença não são eficazmente combatidas, pelo menos em geral, pela força dos braços.

Um Mississipi que é apenas um exemplo de uma boa parte da América da década de 60 do passado século em que o segregacionismo era um regime legalmente instituído e em que a criadagem ainda estava a transitar do estatuto jurídico de “escravo” para o de “pessoa”. Um conjunto de mulheres fúteis e desequilibradas que afirmam uma suposta força ao aviltar os mais fracos. Sempre foi assim a relação ente os Homens. De poder, de mando. Todavia – e isto são boas notícias –, um olhar objectivo pela História prova-nos que as condições melhoraram substancialmente: o Homem humanizou-se mais. Não que isto signifique que ele se tornou totalmente humano, pois aí deixaria de ser… Homem.

Os EUA são um grande país. Mas em muitos aspectos da sua História, constituem uma tremenda injustiça, hipocrisia e servilismo ao dinheiro. Não são o único país assim, longe disso, mas o estatuto de única potência mundial acarreta especiais responsabilidades éticas e, insisto, humanas. Toda a Pátria tem um percurso histórico que reflectiu o ambiente da época e Portugal, por exemplo, não é nenhum país de “brandos costumes” como Salazar quis mistificar. Travámos guerras intestinas, estivemos à beira da guerra civil há trinta e tal anos, matámos em nome de Deus ou da Religião, tivemos intrigas e mortes palacianas, tivemos réis cruéis. Se houve piores? Certamente que sim.

Mas, ao ver “The Help”, somos confrontados com aquilo que, se praticado mais amiúde, talvez aplanasse as crises constantes em que mergulhámos. Dizia uma velha criada à menina branca que criara: “Quando te levantares, dirige-te ao espelho e pergunta se hoje vais deixar que eles destruam a tua esperança.”.

E numa outra passagem, uma diferente serviçal ensinava a uma menina de cabelos loiros uma cantilena que serviria de mote de vida: “You is beautiful. You is strong. You is important.” (ou algo assim; e o “is” aqui é típico do modo como se falava naquela zona e naquela franja da população).

Quando nos sentirmos com vontade de desprezar o diferente, vejamos “The Help”. Curar não cura, mas ajuda…