sábado, outubro 15, 2011

E(s)pressão



René Magritte, La reproduction interdite, 1937, Museum Boijmans Van Beuningen, Rotterdam.


Espremi-me por dentro

e da massa de órgãos, sangue, vísceras,

ossos, vasos e veias,

não saiu nenhum líquido azedo,

nenhum pedaço mal digerido,

nada de bílis esverdeada e rancorosa.

Depois de espremer ainda mais,

obtive uma substância da textura do mel.

Porventura não tão doce,

mas mesmo assim adocicada,

despretensiosa e amável,

descomprometida e sincera.

Alimentaste-me de boa seiva,

deste luz ao meu tronco e, assim,

fortificado por ti,

já não sinto rancores, já mal guardo ressentimentos.

Libertaste-me!

E com a libertação veio a paz e a serenidade.

Não criaste um anjo nem um deus,

pois de asas não estou guarnecido

e deus não quero ser –

é tarefa demasiado complexa e aborrecida.

Desfolhaste um ser que ansiava por

sê-lo.

Simplesmente.

Como é.


F.L.

2 comentários:

Anónimo disse...

Bom dia amigo,
Há algum tempo que por aqui não passava perca minha pois tanta obra prima que por qaui foi criada....Este poema aliás como os anteriores são deliciosos tratam memórias tuas que poderiam ser colectivas pois todos onde me incluio ou quase todos se revêm, a beleza desta escrita simples e despretensiosa só muitos poucos é que conseguem com palvras elevar imagem reflectindo sentimento e alguma saudade...... Parabéns e obrigado pela partilha

filipelamas disse...

Obrigado pela simpatia de sempre, querido Amigo!