O enredo é relativamente simples: Jamal Malik é uma criança de um bairro pobre de Bombaim (mais tarde, Mumbai) que perde a sua mãe num ataque de uma horda selvagem ao local onde se encontravam todos, pelo simples facto de serem muçulmanos. A partir daí, à extrema pobreza material, junta-se o desnorte sentimental, ficando Jamal entregue ao seu irmão Salim, a quem se junta Latika, uma órfã que acede ao lugar de «terceira mosqueteira».
Relato fiel da degradação humana, do aproveitamento vil da pobreza, de uma Índia plena de contrastes, em que as crianças vivem e se alimentam do lixo, em que tudo é sujo e desordenado, o filme surpreende pelo paradoxo das cores alegres e vivas que ponteiam as trevas com a formidável esperança da luz. Esperança essa que se conjuga com um amor sem fronteiras de Jamal por Latika e que, em última análise, conduz à morte de Salim.
Os dois irmãos simbolizam o bem e o mal como respostas a um ambiente extremo de desfavor social, sendo um hino ao indeterminismo. Jamal não precisou de vencer um concurso milionário para sempre o ter sido. Por certo não em rupias, mas em sentimentos nobres, em noção do justo e do recto, em amor verdadeiro e descomprometido que, no fim, triunfa. Também aqui se denota um optimismo por vezes cândido e naïf do argumento (Simon Beaufoy) que ao espectador transmite um enorme sentido de paz.
Os olhos dos actores que representam Jamal (Ayush Khedekar) e Salim (Azharuddin Ismail) falam pela Índia e pelo mundo, no sentido de que não é tudo admissível neste planeta de horror globalizado. Os planos originais de Boyle ajudam a que vejamos a realidade sempre de uma outra perspectiva, mesmo que inclinada. As representações sinceras e despretensiosas de Dev Patel, Madhur Mittal e Freida Pinto mostram que Bollywood, neste domínio, tem coisas melhores que o original.
A banda sonora só tem um adjectivo: sublime!
Um sério candidato aos Óscares! É a minha aposta!