domingo, janeiro 04, 2009

A Vida é que exagera


René Magritte, Ceci n'est pas une pipe, 1928-29.


A Vida é que exagera;

não estou assim tão mal!

Mesmo que me sinta ridículo

e abandonado ao deambular

por corredores de nenúfares em que

me afundo a cada passo.

A Vida é que exagera;

sinto-me muito melhor!

Ainda que alcance a rigidez

óssea do féretro eterno da tua

boca, que teima em fechar-se

e em ostentar raízes tuberculosas.

A Vida é que exagera;

vou melhorzinho, obrigado!

Mesmo que tenha o diafragma

nas têmporas e o sangue ofegante

nas veias em que venho encarnando.

Ainda que o escuro sadio

de todos me aparte e me transforme

em delfim do Ridículo;

mesmo que de mim rias ao

afagar cabelos desvitalizados

e dentes calvos.

A Vida é que exagera;

estou bom, venho curado!


Filipe Lamas

3 comentários:

P disse...

Mais um excelente texto, ironia negra, destilada e fina.
Abraço

Anónimo disse...

Muito bom mesmo!

J disse...

Com a permissão do autor, este é para guardar no computador para mais tarde reler.

Muito bom!