René Magritte, Ceci n'est pas une pipe, 1928-29.
A Vida é que exagera;
não estou assim tão mal!
Mesmo que me sinta ridículo
e abandonado ao deambular
por corredores de nenúfares em que
me afundo a cada passo.
A Vida é que exagera;
sinto-me muito melhor!
Ainda que alcance a rigidez
óssea do féretro eterno da tua
boca, que teima em fechar-se
e em ostentar raízes tuberculosas.
A Vida é que exagera;
vou melhorzinho, obrigado!
Mesmo que tenha o diafragma
nas têmporas e o sangue ofegante
nas veias em que venho encarnando.
Ainda que o escuro sadio
de todos me aparte e me transforme
em delfim do Ridículo;
mesmo que de mim rias ao
afagar cabelos desvitalizados
e dentes calvos.
A Vida é que exagera;
estou bom, venho curado!
Filipe Lamas
3 comentários:
Mais um excelente texto, ironia negra, destilada e fina.
Abraço
Muito bom mesmo!
Com a permissão do autor, este é para guardar no computador para mais tarde reler.
Muito bom!
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