segunda-feira, janeiro 28, 2008

Jorge Ribeiro de Faria

Partiu como viveu. Sereno, sem alaridos (não apreciava protagonismos estéreis), anunciando o que estava a acontecer com a verdade a que os mais próximos estavam habituados. Gostaria de crer que no momento decisivo acenou ao futuro com o sorriso dos que sabem que estiveram presentes sempre que era essencial, defendendo a Liberdade que tanto amava, os Valores Universais que a todos nos ensinou e aquela reflexividade impeditiva de atitudes precipitadas. Talvez não tenha sido, porém, um sorriso, mas um leve esboço de lábios que se descolam, pois o medo faz parte do Homem, e sempre se orgulhou em sê-lo. Assim: em cumes e baixios, em planícies e terrenos acidentados de orografia exposta de quem comandou gente de carne e osso em colónia penal, nas salas do poder, na Academia que tantas vezes o surpreendia por não resistir (podê-lo-á fazer?) a manter-se o último bastião da decência, da honestidade e da humildade.

Imagino-o agora a conversar com as suas árvores, em amena cavaqueira com as suas folhas, em elevadíssimos diálogos teóricos e práticos com as suas flores, terminando essa jornada de trabalho gostoso com aquela forma peculiar de sorrir, aquele cofiar de cabelo puxado para trás, em prova plena de fronte sempre levantada, nunca em tom porfiador, mas em oferenda pacata de transparência. Sim, por trás dos óculos que punha e tirava, os olhos pequenos brilhavam quando pedia licença para passar (nunca pisar) pelo primeiro e pelo último degrau de uma escada convencionalmente chamada «sociedade».

Sem saber, ajudou-me muito. Saí do seu gabinete com pesos de consciência, com penas leves de felicidade, com gestos concretos de alento. Só nunca saí do espaço que fazia o favor de comigo partilhar igual ao que havia entrado.

Onde vou (vamos) agora encontrar isto?

A morte é vivida com o egoísmo da ausência para quem fica e com o altruísmo dos que partem, dizendo a quem os queria tanto que agora o palco é só deles. Possamos todos quantos o amamos – sim, no presente –, ao menos, não fechar a porta a ninguém.

quinta-feira, janeiro 24, 2008

Life is a miracle

Bubamara em vésperas do concerto de Emir Kusturica e da No Smoking Orchestra.

sexta-feira, janeiro 18, 2008

Dicionário Alternativo

Depois de lautos banquetes e faustosas visitas de Estado, Sua Excelência Sereníssima O Senhor Marquis do Reino do Forno volta a ordenar-nos que coloquemos o seguinte desafio ao vasto auditório, sobre este vetusto termo dessa mui nobre língua, o Fornense:
Zubaida.
Alguém arrisca?

quarta-feira, janeiro 16, 2008

Porto de Vista (XXII)

Early Night Posts (38)

"- Daniel, não podes contar a ninguém o que vais ver hoje. (...) Bem vindo ao Cemitério dos Livros Esquecidos, Daniel. (..) Este lugar é um mistério, Daniel, um santuário. Cada livro, cada volume que vês, tem alma. A alma de quem o escreveu e a alma dos que o leram e viveram e sonharam com ele. Cada vez que um livro muda de mãos, cada vez que alguém desliza o olhar pelas suas páginas, o seu espírito cresce torna-se forte. (...) Neste lugar os livros de que já ninguém se lembra, os livros que se perderam no tempo, vivem para sempre, esperando chegar um dia às mãos de um novo leitor, de um novo espírito. Na loja nós vendemo-los e compramo-los, mas na realidade os livros não têm dono. Cada livro que aqui vês foi o melhor amigo de alguém. Agora só nos têm a nós, Daniel, achas que vais poder guardar este segredo?
(...) Daí a pouco, assaltou-me a ideia de que atrás da capa de um daqueles livros se abria um universo infinito por explorar (...).
(...) Um segredo vale o que valem aqueles de quem temos de guardá-lo."
Carlos Ruiz Zafón, A sombra do vento, pp. 13 -15 e 21.

Portugal de Vista Esclarecida (VIII)


O último desafio do Portugal de Vista era, reconhecidamente, muito difícil! Trata-se de um pormenor da Sala dos Actos da Universidade de Évora.
A fotografia foi-me enviada por Baudolino, a quem aproveito para agradecer.
Deixo uma foto de uma das praças mais conhecidas da belíssima cidade de Évora: a praça do Giraldo.

Porto de Vista Esclarecida (XXI)

Tardou, mas chegou a resposta, sob a forma de fotografia, ao último Porto de Vista.
Tratava-se, de facto, d "A Pérola do Bolhão".
Parabéns ao Duarte!

quinta-feira, janeiro 10, 2008

Comptine D'un Autre Été

"Comptine D'un Autre Été" composta por Yann Tiersen e integrada na banda sonora de "Le fabuleux destin d’Amélie Poulain".

Early Night Post (37)


"- Estavam a tocar a Sonata de Kreutzer, de Beethoven. Conhece o primeiro presto? Conhece? – exclamou – Ooh! ... Esta sonata é uma coisa terrível. Precisamente esta parte. E a música em geral. (...) O que é a música? O que é que ela nos faz? E por que é que faz o que faz? Dizem que a música provoca um efeito sublime na alma ... Mentira, absurdo! Provoca um efeito, um efeito terrível (estou a falar de mim), mas não sublime. (...). A música faz-me esquecer de mim próprio, da minha verdadeira situação, transporta-me para outro espaço qualquer que não é o meu: a música parece que me faz sentir o que na verdade não sinto, que me faz compreender o que não compreendo, parece que, com a música, posso fazer o que na verdade não posso (...)"

Lev Tolstói, A sonata de Kreutzer, p. 90.

quarta-feira, janeiro 09, 2008

ZOOMático

Em tons de branco natalício (Dezembro 2007)

Morning Yearning

Morning Yearning de Ben Harper.

sábado, janeiro 05, 2008

Casetas raianas

Ao Ti Manel, com a gratidão pelo abraço fraterno com que a todos nos acolheu.

Guardas as casetas da raia,
passas a salto gente sedenta
d’espaço, de mente, de novidade.
Salpicas a noite de tiros cavos,
cuspidos por armas foscas de
tiranias subtis que de podres
caem das cadeiras.

Cuidado! Ali atrás!
Sim, na mata!
Ei-la, a jovem matriarca de
seis irmãos escanzelados
está a passar-te a perna!
Não olhes muito!
Dizem que é feiticeira;
que das florestas dos olhos
florescem demónios sensuais!

Olhaste?
Já passou… ela e os esmiuçados da fome…
Vá, esconde o contrabando
de Português Suave antes que
de Lisboa venham o cartão e os bufos!

F.L.