quinta-feira, dezembro 25, 2008
Natasongs #9
Para os membros do Tretas, a música tem um significado especial, não podendo, por isso, faltar nesta nossa colectânea de "Natasongs" que, esperamos nós, venha a conhecer a luz do dia com a prestigiada e prestigiante etiqueta da "Thumbelina Records":)
Feliz Navidad a todos vós e a todos nós!
quarta-feira, dezembro 24, 2008
Natasongs # 8
Com os votos de um Feliz Natal
"Christmastime" dos Smashing Pumpkins
"We watch the children playing/ Beside the christmas tree/ The presents are wrapped up/ It's beautiful and secretly! the gifts still hide/ The fun awaits for you inside/ Christmastime has come/ There'll be toys for everyone/ Cause christmastime has come for you/ I remember dreaming Wishing hoping praying for this day/ Now i sit and watch them/ The little ones i love so excited by the wait/ Christmastime has come/ There'll be toys for everyone/ Cause christmastime has come for you/ And now the word is given/ It's time to peek inside/ It's time to let the toys out/ So anxious for your look of joy and delight/ Waiting for just your surprise/ Christmastime has come/ There'll be toys for everyone/ Cause christmastime has come for you"
segunda-feira, dezembro 22, 2008
"Tailorado"
René Magritte, Le fils de l'homme, 1964.
Em mim mesmo não caibo.
A minha pele estica e sobrepõe-se
ao ser que debaixo dela irrompe.
Em cada manhã me contemplo
e estranho, como a água estranha
a quentura e por isso borbulha.
Em meus ossos me não parto.
Mas também me não sinto.
Sou um fato sem cabide, despido
de irreverências e de rebuços, tailorado
em fazenda axadrezada de vida exagerada.
Ao contrário de Pessoa, tudo nada
exagero
e assim me motivo e passo indelével
pelos dias loquazes.
Parece que caibo em minha carne
quando calco o empedrado da rua e
em solas vivo.
Mas é mesmo minha a carne,
ou do estranho que nela habita?
Filipe Lamas
domingo, dezembro 21, 2008
quarta-feira, dezembro 17, 2008
Early Night Posts (49)
J. M. Coetzee (Prémio Nobel da Literatura 2003), Diário de um Mau Ano, Alfragide: Publicações D. Quixote, 2008, p. 86.
Ewige Wiederkunft
Dizem que sou velho. Só se for por ter vivido tempos cinzentos de mordaça ao peito e de desfiar rotineiro de vãos fados. Talvez seja por me recordar de serões passados em volta de lareiras fumegantes de corações entrelaçados e urdidos em tessituras têxteis de tule tecidas. Porventura referem-se às épocas em que jardins de flores sobressaíam em cidades humanizadas de tamanho portátil para gente com rosto. Ah! Se calhar é por mendigar tanto por ideologias fundacionais e utópicas, por sonhos políticos infantis e contagiantes. Nada disso… Criticam-me o facto de ainda contemplar as hastes de animais selvagens nas nuvens de cal branca em precipitação sobre os montes.
Sim! Deixá-los escarnecer. Lamentam os pobres coitados viver estes tempos tal como os meus avós não haviam digerido a era de seus pais e eu próprio abomino a dos meus.
Hipótese: o que sentimos pelo presente é inveja de um passado que conforta quando se antecipa o futuro.
Método: científico, pois claro!
Conclusão: regresso ao início ou a inveja pelo eterno retorno.
segunda-feira, dezembro 15, 2008
domingo, dezembro 14, 2008
sábado, dezembro 13, 2008
Simples-mente
Frederick Bazille, Retrato de Renoir, 1867, Musée d'Orsay (Paris)
Se quiseres sorrir, sorri simplesmente.
Não contorças os lábios
nem faças um esgar de olhos.
Nada no sorriso esqueças,
desde o levantar do lábio
ao mostrar dos dentes.
Não te preocupes com a beleza dos lábios
nem com a qualidade dos dentes.
És sempre belo quando sorris!
Nas pequenas coisas da tua cara
evita dar ordens racionais:
o pensamento é inimigo do sorriso.
Assim, quando te apetecer sorrir
e depois rir,
não te escondas atrás de tapumes,
nem peças licença para o fazer!
Mostra antes a todos que os teus lábios
se desprenderam
e, separados um do outro,
conduzem uma sinfonia de felicidade!
Só desta forma rirás e
renegarás qualquer outra!
Apenas desta maneira o sol aquece:
sem mais. Simplesmente aquece.
Filipe Lamas
quinta-feira, dezembro 04, 2008
terça-feira, dezembro 02, 2008
A civilização da imagem
Em certo país, existia um quartel militar perto de uma aldeia. No meio do pátio desse quartel estava um banco de madeira. Era um banco simples, branco e sem nada de especial. E junto desse banco estava um soldado de guarda. Fazia guarda de dia e de noite. Ninguém no quartel sabia porque se fazia guarda junto a esse banco. Mas fazia-se. Os oficiais transmitiam a ordem e os soldados obedeciam. Ninguém duvidava. Ninguém perguntava. Era assim.
Até que um dia foi trabalhar para aquele quartel um oficial que era diferente. Tinha o mau costume de perguntar o que ninguém perguntava. Perguntou porque se fazia guarda junto a esse banco. Responderam-lhe que era algo que sempre se tinha feito assim. Era uma ordem que se cumpria há muito tempo e funcionava. Logo, não podia estar errada. O oficial pediu então para ver a ordem escrita. Foi necessária uma pesquisa profunda nos arquivos do quartel, que já estavam cheios de pó. Por fim, alguém conseguiu encontrá-la. Dezoito anos, três meses e cinco dias atrás, um coronel tinha mandado que ficasse um soldado de guarda junto a esse banco. Aí estava a ordem. O motivo, escrito em baixo com letra pequena, era que o banco estava recém-pintado e havia o perigo de alguém se sentar.
Esta história pode ajudar-nos a reflectir sobre a importância da actividade de pensar. A importância de não actuarmos com o argumento de que sempre se fez assim. Porque pensar é útil. Pensar é necessário. E pensar com calma revela-se, com frequência, algo profundamente eficaz. Algo que evita a perda de muito tempo. Quantas vezes temos a sensação de que uma coisa correu mal porque não pensámos bem antes de actuar? Porque não actuámos com ponderação? Porque nos deixámos levar pelo imediato?
Este frenesi está muito relacionado com a civilização da imagem na qual vivemos. É um facto que muitas pessoas vêem muitas imagens e lêem pouco ou quase nada. Não porque sejam analfabetas, mas porque parece mais fácil adquirir conhecimentos assim. Assusta conhecer pessoas que passam horas diante da televisão e nem consideram a possibilidade de abrir um livro. «Se uma imagem vale por mil palavras, qual é a utilidade da leitura? Se já vi o filme, para que é que vou ler o livro?».
E esta importância excessiva dada à imagem em detrimento da palavra explica em parte o pensamento débil de muitos. Porque a actividade de pensar articula-se com palavras. Palavras que chegam ao fundo do espírito, que convidam à reflexão e despertam a inteligência. Uma das características mais habituais daqueles que lêem pouco é a pobreza de vocabulário. E isso produz uma pobreza de pensamento. Uma facilidade para actuar como todos. Uma propensão para deixar-se manipular por slogans simplistas. Uma dificuldade para transmitir o próprio pensamento com palavras adequadas. E quem não sabe transmitir aquilo que pensa, o mais provável é que não pense bem.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria