Dizem que sou velho. Só se for por ter vivido tempos cinzentos de mordaça ao peito e de desfiar rotineiro de vãos fados. Talvez seja por me recordar de serões passados em volta de lareiras fumegantes de corações entrelaçados e urdidos em tessituras têxteis de tule tecidas. Porventura referem-se às épocas em que jardins de flores sobressaíam em cidades humanizadas de tamanho portátil para gente com rosto. Ah! Se calhar é por mendigar tanto por ideologias fundacionais e utópicas, por sonhos políticos infantis e contagiantes. Nada disso… Criticam-me o facto de ainda contemplar as hastes de animais selvagens nas nuvens de cal branca em precipitação sobre os montes.
Sim! Deixá-los escarnecer. Lamentam os pobres coitados viver estes tempos tal como os meus avós não haviam digerido a era de seus pais e eu próprio abomino a dos meus.
Hipótese: o que sentimos pelo presente é inveja de um passado que conforta quando se antecipa o futuro.
Método: científico, pois claro!
Conclusão: regresso ao início ou a inveja pelo eterno retorno.
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