domingo, junho 10, 2007

Carta

Peço-te desculpa
por aquela palavra (mal)dita,
por aquele sinal proibido,
pelo gesto em desalinho.
Imagino-te replicar que o maior
pecado foi eu não ter feito,
que falhara por omissão.
Se assim foi,
não peço perdão,
pois não se perdoa o que
não existe.
Suplico-te antes que
vejas neste corpo somente
o humano
e que nele te reconheças,
no tal falhanço omissivo.
Não te vou prometer
que serei mais presente –
estou a tentar cumprir «promessas».
Mas deixo-te o penhor
do sofrimento da tua
Ausência
como garantia de que
não ocuparei o tempo
só para contigo não estar,
só para me refugiar
de ser feliz.
Queres acompanhar-me
nessa tenda no meio
do deserto da alma
e comigo partilhar o
maná dos deuses
e o veneno dos monstros?
Espero uma resposta.
Fá-la o mais breve possível.
E – agora sim – desculpa
a lamechice da carta.
Vou sabendo escrever, mas
nunca sei escrever-te.

Do sempre teu, ou melhor,
do às vezes teu,
Eu.

F.L.

6 comentários:

ml disse...

"vou sabendo escrever, mas
nunca sei escrever-te."

está fantástico. repetindo-me, como sempre, dou-lhe os mais sinceros parabéns. acho que domina as palavras, moldando-as com diferentes intensidades... dando-lhes vida nova a cada sílaba. :)
lindo.
*

Anónimo disse...

Com precisão no sentido nem sempre contido nas imagens relectidas nas palavras que com tanta alma e magia são POEMA.... gostei muito, estupendo...parabéns... um abraço ao poeta

Amândio Sereno disse...

Bom.

x disse...

é sem dúvida dos poemas, que li no tetas, que mais gostei. e é boa a sensação de os ir colocando, lado a lado, com os que havia preferido antes.
parabéns.mesmo *

Anónimo disse...

Passando o cliché, a Luísa tirou-me as palavras da boca. A frase que transcreveu, era aquela que eu transcreveria para demonstrar a diferença entre um poeta a sério, e aqueloutros de trazer por casa. Cada dia, mais surpreendido!

Anónimo disse...

também eu achei o poema lindo, e também eu transcreveria as palavras que a luísa e o andré salientaram, porque ... é isso mesmo!

muito bonito ;)

A.