Hoje foi um dia muito preenchido. As emoções começaram ao acordar e só há pouco se acomodaram para preparar um descanso nocturno que se adivinha docemente melancólico.
O meu irmão é finalista e hoje não pude deixar de me comover ao vê-lo trajado com as fitas desfraldadas e com aquele brilho nos olhos de quem vence uma etapa.
De tarde, na minha Faculdade (que bom é este sentimento de pertença), as lágrimas estiveram por um fio ao contemplar os novos licenciados que conheci desde os primeiros anos e que tive a honra de ter como alunos. Tantas emoções, tantas recordações.
Recuei 12 anos àquele dia em que entrava num mundo novo chamado “Universidade” e logo me vieram à lembrança os risos, as alegrias, os olhares cúmplices daqueles que comigo partilharam o sonho e a realidade de uma Casa que vimos nascer e que, como tantos outros que vieram depois de nós – e tantos mais que lá estão e lá estarão –, ajudamos a fazer crescer. Os fados de despedida – a fonte perto da qual se amaldiçoa a sorte que nos deixa partir com o bater da “velha cabra” em eterna memória – levaram-me até ao dia 7 de Maio de 2000, no qual nos impuseram cartola e bengala, à semelhança do que hoje sucedeu por todo o País.
Peguei no livro de curso que organizámos e comecei a percorrer as suas folhas, relembrando os amigos que hoje estão por aí disseminados, espero que ocupados a serem felizes. E não pude deixar de parar na folha em que, sorridente, uma querida colega enfrentava o futuro com a serenidade estampada no rosto.
Essa colega foi tolhida do nosso convívio pouco tempo depois.
É para ela – eu sei que ela está a ouvir – que deixo alguns trechos de um pequeno discurso que os finalistas de então quiseram oferecer naquele dia a todos quantos lhes deram a honra de com eles partilhar aquele momento único. Tal como hoje.
6 comentários:
Gostei muito de ler este post. Até porque retrata, na sua essência, o meu estado de alma no dia de ontem.
Só o segundo parágrafo ainda é estranho para mim. O meu maninho é mais novito e ainda está a meio do curso, mas certamente será uma ocasião muito feliz. :-)
Parabéns para o teu irmão e felicidades para a nova etapa!
Quanto ao resto, posso dizer que senti todas as palavras. Ver cartolar mais um conjunto de alunos que conhecemos num contacto quase diário de vários anos é sempre um momento sempre emociante e nostálgico!
E a homenagem final é muito linda!
A emoção de gerações que nos sucedem, de quem fomos professores, o entusiasmo perante a vida, a não consciência da fugacidade da vida, a doce e vital ilusão de que se chegou enão de que se está sempre a partir, tantas vezes.
(Apenas tenho pena que os poucos alunos que vou tendo (é a crise das universidades em algumas áreas...) não se vibrem com o que vão fazer e sejam, muitas vezes, autómatos cinzentos preocupados em cumprir. Desculpem, T&L, o desabafo mas, como não concebo a vida sem chama, sem alma, sem emoção, custa-me alguma apatia reinante à minha volta.)
A homenagem é emocionante. Algumas pessoas são mesmo estrelas cadente, desenhando um traço no noso céu e sendo subtraídas aos nosso olhos precocemente. Todos temos as nossas. A verdade é que já nos deslumbraram... já marcaram. sigam em paz o seu percurso, algures onde apenas não as podemos ver.
Um abraço
Desculpem algumas gralhas no com. anterior.
De facto um post muito bonito. O dia do último cortejo marca o fim de uma fase de vida, o início de outra. Sentimos-nos como se fosse o último dia de aulas. Hoje, quando falaste do cortejo do teu irmão fui invadida por uma onda de saudade e por instantes revivi o meu último cortejo, momentos que guardei como que fotografia. Muitos parabéns ao teu irmão. Este é o principio do resto da sua vida :)
os começos deixam-me sempre feliz. começos que temos até ao fim.essa melancolia não é mais do que a confirmação daquilo que vamos deixando para trás mas com os olhos na linha do infinito.começos para uns, etapas ultrapassadas para outros é sempre bom ver a complementaridade da vida.parabéns*
Eu nunca vou esquecer essa mítica primeira aula fantasma, nem a outra, a primeira a sério, em que alguém decidiu deixar-se levar pelo pesado das pestanas, correndo o risco de desencorajar quem se iniciava nas lides de docencia que tão bem tem desempenhado.
Mea culpa
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