Sobrevivente (Março 2007)
"Todos morreram e eu (...) era tão solitário como a árvore na clareira da minha floresta, a árvore à volta da qual a tempestade derrubou toda a floresta, um dia antes de rebentar a guerra. Ficou uma árvore na clareira, junto da casa da caça. Passado um quarto de século, uma nova floresta cresceu em redor dela. Mas essa árvore, como vês ainda continua a viver, hoje, com uma força tremenda e irracional. Qual será o seu objectivo? ... Nada. Simplesmente, quer continuar viva. Parece que a vida, tudo o que é vivo, não tem outra finalidade além de permanecer até poder e renovar-se sempre. Assim que regressei da guerra, falei (...) Ele ouviu-me e só disse o seguinte: «Que é que queres? Sobreviveste.» Pronunciou-o, como se se tratasse de uma sentença. E também como se fosse uma acusação. (...) Então percebi que quem sobrevive a alguma coisa, ganhou o seu processo, não tem direito, nem razão para acusar alguém; (...)"
"Todos morreram e eu (...) era tão solitário como a árvore na clareira da minha floresta, a árvore à volta da qual a tempestade derrubou toda a floresta, um dia antes de rebentar a guerra. Ficou uma árvore na clareira, junto da casa da caça. Passado um quarto de século, uma nova floresta cresceu em redor dela. Mas essa árvore, como vês ainda continua a viver, hoje, com uma força tremenda e irracional. Qual será o seu objectivo? ... Nada. Simplesmente, quer continuar viva. Parece que a vida, tudo o que é vivo, não tem outra finalidade além de permanecer até poder e renovar-se sempre. Assim que regressei da guerra, falei (...) Ele ouviu-me e só disse o seguinte: «Que é que queres? Sobreviveste.» Pronunciou-o, como se se tratasse de uma sentença. E também como se fosse uma acusação. (...) Então percebi que quem sobrevive a alguma coisa, ganhou o seu processo, não tem direito, nem razão para acusar alguém; (...)"
"As velas ardem até ao fim", Sándor Márai, pp. 131-132.
3 comentários:
A força com que tanta gente se agarra à vida é surpreendente. Sobreviver, dito como uma sentença ou uma acusação, para além da parte técnico-jurídica (:_))resume muito da perspectiva com que se encara a vida. É caso para dizer que não são apenas as velas que ardem até ao fim, mas também certos livros como esse!
Sim. Já o acabei de ler há algum tempo, mas ainda não o digeri completamente. Digamos que a sua luz ainda não se apagou dentro de mim. E dificilmente alguma vez isso acontecerá. É um livro muito marcante. Estou a ganhar alguma distância para fazer um post-scriptum. De qualquer modo, vou fazendo umas citações. O livro é quase todo citável. A linguagem simples, despida de grandes ornatos, revela uma substância riquíssima.
estou completamente perdida pela 'herança de eszter' (também do sándor márai).quase que custa pegar-lhe, porque as folhas são parcas, as palavras são tão bonitas pelos seus floreados nulos, que não quero acabá-lo de modo nenhum. é incrível o sentido que faz na minha vida, agora.
senti-me feliz por ver estas citações. pela 'quase' telepatia. :)
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