segunda-feira, março 19, 2007

Pai


And when did you last see your father?, William Frederick Yeames, 1878, Walker Art Gallery, Liverpool.

Pai ausente,
Porque presente
Torna mais exigente
O laço biológico que nos une.
Cabelos já brancos
(Dos poucos que tens),
Desalinhados,
Borboleteando ao sabor da brisa.
Aproximo-me de ti,
Contemplo as tuas mãos.
Sim, sempre foram uma referência:
De trabalho, pão, honradez, verticalidade.
Sentimentos tê-los-ás,
Mesmo ocultos por baixo de uma sonora indiferença.
“Que interessa dizer que se ama
Quando isso é patente?
Acaso terás dúvidas sobre isso?”
Pragmático, incisivo, cortante.
Não é o afago que enche o estômago,
Mas é ele que reconforta
O leito quando, em criança,
Não me aconchegavas os lençóis.
Curioso, Pai:
A tua ausência
É a presença mais notada.
E sendo-o, és mais do que digo.
Molhando os lábios nas tuas palavras:
“Foge a dizer o óbvio.
Soa sempre mal.”

F.L.

7 comentários:

Anónimo disse...

Bonito postal de reconhecimento de dia de pai o sentir que sempre emerge....Parabén Filipe e também ao teu pai por ter um filho assim...Obrigado pela partilha nesta lição, Um abraço

Joaninha disse...

Uma bonita homenagem.

Serenidade disse...

Bonito poema que encerra muito mais que palavras, é uma mescla de sentires vivênciados de uma forma intenção e diferentemente interpretados por pai e filho.

Excelente homenagem.

Beijos de luz serena ao pai e ao filho.

Anónimo disse...

Bela e sincera demonstração dos sentimentos que se sentem por um pai,quando por vezes as palavras não chegam para expressar o que sentimos! Muitos parabéns!
Cids*

GBN disse...

Palavras pungentes. Transpira uma mágoa das palavras do eu poético. Adivinha-se um interlocutor presente mas silencioso; talvez sem saber que o eu lhe empresta palavras de reconhecimento e absolvição. Ou então porque se escusam de falar do seu amor, porque é desconfortável o dizer; porque apesar de tudo, sob o áspero das faces, o carinho está lá. Sempre esteve.
Belos versos.

x disse...

tão belo... belo como o sorriso do pai por aquele seu carácter de único...tal como este poema, único, pela sua beleza. parabéns.

Anónimo disse...

É lindo, mas amargo e sofrido.
De uma vida vivida e dorida de pai ausente, hoje digo que o único caminho é a aceitação...para não mais doer.
É que nós e (eles)não "somos" como alguém nos vê, somos mais do que isso, ou diferentes disso.
Um beijo para o poeta e filho.
Maria