Theophile Emmanuel Duverger | Alone | 1821 |
Vezes sem conta.
Desviámos olhares, impensável palavras.
Olhámos para cima, para baixo.
Desconforto. Maduro. Antigo.
As escadas seriam a salvação.
Mas o edifício é alto,
A seara é extensa;
Os trabalhadores não abundam.
Parámos no patamar.
Franqueei-te a saída
Sem um “adeus”, um “até breve”.
Paredes que somos;
Pedras frias e ásperas
De matizes acinzentados ornada.
Um vazio na cidade,
Um só paciente da cidade
Que saliva pelo olhar do outro.
Pode ser um esgar,
Um entreolhar,
Um soslaio.
Basta-me um contacto.
Sem ele corto os pulsos,
Atiro-me da ponte,
Rebento os miolos!
Não!
Não!
Não aguento a tua indiferença, bruta Cidade!
F.L.
10 comentários:
A força das palavras numa sempre deslumbrante poesia com imagem de muito bom tom.....A cidade que falas não pode ser a minha, pois a minha cidade é diferente mais nossa mais quente (apesar de fria).
Mais uma vez obrigado.
Parabéns
li o poema umas três vezes, é bonito, é um quadro completo, com imagens nítidas. a seguir tive saudades de álvaro de campos, fui á sala, e agora vou lê-lo para a varanda com o contraponto da «cidade» nas linhas do meu pensamento.
parabéns.
*
Muito bem, filipelamas!
Tal como a Xana, também li o poema (o mesmo aconteceu com o anterior) várias vezes para apreender todos os pormenores do quadro que pintaste desta cidade "indiferente". Gostei muito!
Talvez seja um dos teus melhores poemas - mas estas escolhas são sempre difíceis e inúteis!
Apesar de o domínio das palavras ser inalcançável (;-)), doma-las e com elas forjas cada vez mais belos poemas.
O acto de "poiesis" começa ou é insuflado por uma qualquer revelação, venha ela dos deuses, da Natureza ou de qualquer outra entidade, parafraseando Ana Luísa Amaral numa interessante Tertúlia sobre Poesia. E, sem dúvida, tu és agraciado por esse dom!
Arrebatadora esta tua forma de expressares a indiferença da população citadina. Anda-se só no meio da multidão. A palavra tem a capacidade de fazer um sorriso nem que seja apenas de soslaio no rosto de quem recebe um "bom dia" um "olá", um "adeus"...
O quadro é lindissimo.
Sorriso primaveril.
Beijo de luz serena.
gostei imenso do poema. e que bem descrito o desconforto do reduzido espaço de um elevador, quando os espaços vitais se invadem sem aviso. provavelmente uma fiel descrição da vivência diária de um nova-iorquino. gostei!
"fomos memória de tantas e tantas estórias por escrever:
pedaços inócuos e obscuros da turba que se esvai diariamente pelas artérias da cidade esquecida"
parece que nos perdemos exactamente no mesmo ponto. *
(e já agora aproveito para uma pequena reivindicaçãozinha: O Oráculo Leittini. Faz muita falta a cada início de semana ;))
Na cidade em que vivo tento, por vezes, imaginar que algumas das pedras frias que me amuralham são orgânicas, estão vivas e são um manto que aquece e acolhe. Às vezes, na cidade em que vivo, as pessoas gelam as muralhas. É mesmo assim, se calhar... Vivemos neste suposto equilibrio termodinâmico e não será por isso que deixaremos de ser felizes, se calhar...
(Que raciocínio idiota, o meu. Ainda assim, saíu, não o vou apagar)
No campo não há elevadores, de facto
Lindo poema sobre esta linda e feia cidade.
A cidade é um filtro.
quem são os que olham
quem são os que olham mas não veem
quem são os que veem mas não param
quem são os que param mas não tocam
quem são os que tocam mas não sentem
quem são os que sentem mas fingem não sentir
quem és tu
quem sou eu
Eu sou a que tento olhar e ver e parar e tocar e sentir e diz~e-lo escrevendo.
E tu quem és?
Pareces-me semelhante...reconheço-te... olha bem para o teu lado repare que se tu reparas alguem reparará em ti... mesmo na indiferente cidade.
Lindo, lindo poema!
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