domingo, novembro 05, 2006

Elogio do Domingo


Quem há pouco passou pela Casa da Música para assistir ao concerto da Kammerorchester Basel (Orquestra de Câmara da Basileia), não deu, por certo, o tempo por mal empregue.
Num tom intimista que este tipo de composição de orquestra proporciona, aliado a uma elevada qualidade técnica na execução, estes ilustres convidados brindaram-nos com sorrisos abertos e fáceis, não muito vistos em actuações deste género.
O repertório foi uma excelente escolha: cruzar Sergei Prokofiev com Joseph Haydn é uma ideia brilhante. Conhece-se o fascínio que o primeiro sentia pelo segundo, porventura devido ao facto de Haydn ter sido (também) um incompreendido no Neoclassicismo em que se inseriu. Longe de obras mais conhecidas do público, como é o caso da Sinfonia n.º 2 (conhecida como “Clássica”), a primeira parte abriu com uma composição que retrata a infância de Prokofiev (Dia de Verão. Suite op. 65a, de 1941), entre uma mãe que o estimulava no culto da música e um pai, engenheiro agrónomo, com outros planos para o único filho.
De seguida, o momento sem dúvida mais alto deste final de tarde de Novembro: a actuação a solo daquela que julgo ser, na actualidade, a maior violinista, na pauta do concerto para violino e orquestra n.º 2 em Sol menor op. 63, de 1936. Com apenas 23 anos, a alemã Julia Fischer é já uma certeza. A sua figura esbelta e escorreita alia-se a uma extraordinária capacidade técnica e mesmo cénica. A forma como vibra com cada nota que tira do seu violino com mais de 150 anos constituem um diálogo amoroso capaz de nos inspirar só bons sentimentos. A expressividade do som encheu a Casa da Música, perante uma solista que fazia mesmo esquecer a orquestra que tinha atrás.
Imensamente aplaudida, brindou o público com uma peça de Bach. O arco foi mesmo ficando sem linhas de cordas tanta era a vivacidade que esta jovem colocava na sua interpretação.
A segunda parte, com uma peça de ensemble (sonata para violino op. 115, de 1947) de Prokofiev foi o aperitivo para o diálogo com a sinfonia n.º 88 em Sol maior de Haydn (1787). Foi visível o humor que percorre a obra dos dois compositores que, afirmando-se nos sécs. XVIII e XX, mostram que a ironia é uma excelente arma.
Como dizia alguém no final, espectáculos como este e a uma hora tão cómoda de um Domingo, fazem-nos lembrar que o “dia do Senhor” é mais um dia para gozar em pleno e não para resmungar de forma mal-disposta com segunda-feira.
Julia Fischer, um nome a reter.

1 comentário:

rtp disse...

Com um post como este sobre o concerto quase que se colmata a falta de assistência ao dito.