Sendo pouco atreito a dias de isto e dias daquilo, considero, no entanto, que festejar a música é festejar a vida. Assim, no passado dia 1/10, em boa companhia, assisti a um concerto de bom nível na agora chamada «Sala Suggia». Com a particularidade de os bilhetes serem grátis e de ter estado na fila desde manhã cedo, em pleno domingo… Quem corre por gosto…
Fiquei deveras satisfeito com a verificação – de que já suspeitava – que a música clássica não é para um conjunto (mínimo) de seres míopes, feios, desinteressantes, com dificuldade de relacionamento humano e que vivem em entropia num mundo de sinfonias, cantatas e árias. A sala tinha gente de todas as idades e de todos os quadrantes da sociedade. Foi, nesta acepção, um dia da música verdadeiramente democrático.
A Orquestra Nacional do Porto (ONP) interpretou «Uma pequena serenata nocturna. KV 525» (1787), de Mozart. Fico sempre com a sensação – como alguém de forma lapidar disse no final – que a ONP não tem (ainda) «unhas» para Mozart… O «Concerto para três pianos e orquestra, KV 242» (1776), do mesmo compositor, teve em António Rosado o seu mais lúcido intérprete. Com a surpresa de o maestro titular da ONP –Marc Tardue – ter também ele assegurado um dos pianos, num esforço meritório e com alguma «qualidade cénica» - resultava bem vê-lo levantar-se volta e meia para dirigir a orquestra e marcar os tempos de entrada.
Na segunda parte, Shostakovich e a «Suite for variety orchestra – “Jazz suite n.º 2”» deram um tom festivo e que me transportou para aquilo que imagino terem sido reuniões magnas do Comité Central do PC da ex-URSS. Qual Praesidium, tudo acabou com o público a cantar juntamente com a ONP, numa iniciativa de interactividade que registei. Marc Tardue marcou uns pontos. Não tanto pela execução – mediana, diria e com um programa muito colado à moda dos 250 anos do nascimento de Mozart e 100 anos do nascimento de Shostakovich –, mas pela alegria que conseguiu transmitir a um concerto tido normalmente por «seca profunda».
Para quem tinha ido, na noite anterior, assistir a um grupo todo modernaço que me deixou com os (poucos) cabelos em pé, foi uma melhoria considerável!
Ir à Casa da Música está a tornar-se um vício gostoso na minha vida. Quando lá estou com Amigos, o gosto é ainda maior.
4 comentários:
Pois, muitas vezes são esses os sinónimos associados aos admiradores da música clássica. Mas, quer queiramos quer não, são eles os best sellers eternos.
Rtp, obrigado pelo seu belo comentário no meu post "Coisas simples". Obrigado pelo link também
Gostei muito do concerto. Foi uma digna celebração do dia da música.
Ignotu, não tem de agradecer. O comentário bebeu toda a inspiração no seu belo post. :-)
Foi um óptimo fim de tarde! As pessoas estavam leves e divertidas
Não colocando embora em causa a ideia de filipelamas de que a ONP tem ainda um longo caminho a percorrer, certo é que o concerto comemorativo do Dia da Música foi muito agradável. Foi entusiasmante ver na plateia (e, já agora, nos lugares do coro, pois a CM estava muito bem composta...) pessoas de todas as idades e tendências, unidas no gosto universal pela música. Aquele momento final de interacção do público com a orquestra foi um momento bonito de comunhão e de democratização da música clássica, que se soma aos vários momentos do passado que, goste-se ou não do estilo pessoal, já vêm sendo apanágio de Marc Tardue.
Last but not least, é verdade que a companhia foi essencial para tornar aquela tarde da Música ainda mais mágica.
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