"Começo daqui a pouco, costumava pensar e permitia que os dias passassem por mim, daqui a pouco, daqui a nada, amanhã será diferente, amanhã acordo e o dia nasceu extraordinariamente azul, (...).
Começo onde me esqueci de começar, se for possível, começo no princípio de tudo, no princípio do tempo em que nem tempo havia e juro-te, pai, que vou fazer tudo para absorver bem os minutos, por beber todos os segundos, começar onde me esqueci de começar, (...).
Daqui a nada o dia começará a clarear, abrirá os braços longos sobre as sombras e expulsará a noite, daqui a nada fecharei a janela, a madrugada despertará em mim o frio que ainda não sinto, ..."
Rodrigo Guedes de Carvalho, Daqui a nada, Dom Quixote, 2005, pp. 133, 134 e 147.
5 comentários:
Começar. Recomeçar. Fosse possível cada dia ser um novo começo. Fazer de novo o que não foi feito de forma correcta...
Umas boas escolhas de texto, sem dúvida!
Tenho estado curioso para o ler, mas o facto é que ainda não li... Aguçou o apetite!
Culpamos muitas vezes o tempo de culpas que só nós temos. Começar não é fácil, assim como arranjar disposição para fazer o que devemos, mas esse é um dos desafios diários que todos temos de enfrentar. E a imensidão do mar pode bem ser uma força motriz.
Fiquei surpreendido pelos extractos! Fiquei curioso quanto ao restante texto do livro
Ainda bem que aguçou o apetite. Acho que vale a pena a leitura. Sobretudo não se deve (como eu fiz a priori) colar à obra a etiqueta que o seu autor, de algum modo, acaba por transportar, como pivot de um jornal de grande audiência numa TV generalista. Espero fazer em breve um post sobre o livro!
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