domingo, outubro 22, 2006

Ecos de um discurso

Sentada na Sala Suggia da Casa da Música, na passada Sexta-feira, ouvindo a Orquestra Nacional do Porto, revivi, em acordes musicais, a verdade das palavras que ouvira, nessa mesma tarde, da voz de Paul Auster. Na cerimónia de entrega dos Prémios Príncipe de Astúrias 2006, o escritor americano agraciado com o galardão relativo às letras, aproveitou o ensejo para, no seu discurso, falar da arte.
Começou por acusá-la de inutilidade, para logo afirmar que é precisamente essa característica que lhe comunica o seu valor. É aliás, segundo ele, o acto de criação artística que nos distingue de todas as outras criaturas e nos define como seres humanos.
E, pronunciando-se sobre a literatura de que é tão bom cultor, confessava que "Every novel is an equal collaboration between the writer and the reader, and it is the only place in the world where two strangers can meet on terms of absolute intimacy", acrescentando, feliz que "I have spent my life in conversations with people I have never seen, with people I will never know, and I hope to continue until the day I stop breathing".
Também na Casa da Música, através de um programa composto pela Rapsódia sobre um tema de Paganini de Rachmaninov e pela Sinfonia n.º 8 de Shostakovich, durante quase duas horas, decorreram cruzados diálogos mudos. Cada uma das obras transmitiu uma mensagem particular a cada um dos espectadores. Cada um dos espectadores retirou do enunciado musical um significado diferente. Pude constatá-lo ao intervalo e no final com magníficos sentidos revelados e que em muito se distanciavam dos que, para mim, fora construíndo.
Em comum, a congratulação à ONP pelos bons momentos que nos vai proporcionando e a Nelson Goerner, pelo expressivo diálogo travado com o piano, na execução da obra de Rachmaninov.

E fico por aqui, porque estou já em estágio para um outro espectáculo – que, espero, seja, uma exibição de arte - marcado para o fim da tarde. Espero que, neste caso, do diálogo resulte uma agradável mensagem para os meus ouvidos, insusceptível de mais do que um sentido.

6 comentários:

filipelamas disse...

Para além do excelente relato e das importantes palavras de Auster, fiquei curioso com o encontro de hoje à tarde:)

rtp disse...

Curioso?!?! Não me diga que o menino não sabia que hoje era dia de derby. Ainda para mais um derby fracturante deste blog: o seu FCP foi a Alvalade digladiar-se com o meu Sporting . E eu que queria uma mensagem que fosse música para os meus ouvidos ... e apenas obtive um sensaborão empate. O 1-1 soube mesmo a pouco. O Sporting merecia mais ... Aquele alívio para a frente do Ricardo comprometeu a vitória. Como disse o Paulo Bento a nossa exibição foi melhor do que o resultado; e como reconheceu o Jesualdo a exibição do FCP foi pior do que o resultado. É o que dá - empates "polissémicos".:-)

Claudia Sousa Dias disse...

Extaordinária combinação, filipe!

Auster e Rachmaminiff!

O que eu tenho andado a perder!

CSD

rtp disse...

Cara Claudia, não foi o filipe. Fui eu, a rtp! Cumprimentos recebidos. :-)

Anónimo disse...

De facto rtp, um dia em cheio. Paul Auster é um dos meus escritores favoritos. Adoro a forma como descreve as relações humanas e o encadeamento dos acontecimentos que torna cada vida em algo sublime e nada casual. Rachmaninov é também um dos meus compositores preferidos, igualmente pela sua intensidade.
Gostei particularmente deste post :)

Joaninha disse...

A inutilidade da arte! Bela descrição a de Paul Auster.
Quanto ao espectáculo de ontem, acho que foi verdadeiramente divinal o empate. Soube muito bem aos vermelhos! :PP