AVISO: Este é o 3.º capítulo de uma novela da vida moderna escrita a quatro mãos entre mim e a rtp. A minha mora quase se convertia em incumprimento definitivo. Espero que ainda mantenham o interesse objcetivo (e subjectivo) nesta prestação e que façam um update lendo os outros dois episódios que constam já dos arquivos do T&L.
Mário saía enfim de casa. O lusco-fusco daquele dia de Outono iluminava o seu carro topo de gama e dava um especial destaque ao smoking que comprara de véspera. O anterior estava fora de moda e a soirée por ocasião do primeiro aniversário da revista cujo nome lhe tinha passado por completo exigia especiais cuidados na indumentária. Estaria o presidente do conselho de administração da corretora em que trabalhava e, enquanto administrador com, de entre outras, a área das relações públicas, tinha de gramar festas do tipo.
Durante a viagem, a queimar os semáforos vermelhos, acordou para a realidade de ter de encarar Madalena. Desde que ela era directora da revista Tempo (afinal o nome aparecera-lhe com estranha clareza), as relações entre ambos haviam deixado aquele rame rame de um flirt que só lhe trouxera dores de cabeça. A mulher era danada! Inteligente, acutilante, adivinhava-lhe os pensamentos e desarmava-o de um certo charme que um trintão gosta de impor.
Aproximava-se agora do Palácio da Bolsa e entregava a chave a um daqueles moços simpáticos de gravata posta à pressa e que lhe faziam lembrar um galã de cinema dos anos 70 cruzado com um arrumador da modernidade.
-Vê lá se tens cuidado e não deixes que as tuas trombas falem por ti! – reflectia.
O ambiente era de luxo. Demasiado até para uma revista como aquela. Sorriu-se com malícia ao pensar que Madalena poderia estar a relacionar-se demasiado bem com o velho gordo e calvo que dirigia com pulso de ferro o grupo editorial em que a Tempo se integrava.
Cumprimentou uns quantos circunstantes e vislumbrou Madalena, de copo na mão, sorriso rasgado, vestido preto comprido colado ao corpo, de decote generoso e com a cabeleira negra que recordava das noites passadas a dois.
Apercebeu-se que ela o vira e que, de propósito, se enlaçara num abraço artificial com um fulano empertigado que conhecia de reuniões de negócios em Lisboa.
Por lhe dar especial gozo, dirigiu-se a Madalena como um verdadeiro profissional:
-Sra. Dra., em nome da Vince Consultants, endereço-lhe as mais vivas felicitações pelo sucesso que a Tempo tem registado ao longo deste ano!
Madalena estava incrédula e Mário sentia-se triunfante.
-Muito obrigada, Mário. Evite a formalidade falsa. Vai mal com o seu currículo.
Apesar da rapidez das frases, elas traziam um misto de surpresa, pouco à-vontade e daquela determinação que caracterizava Madalena.
-Sim, de facto o meu currículo é impressionante. Há uma ou outra mancha…
-Vícios ocultos, Dr. Mário?
-Encontros que nunca deviam ter acontecido. Mas deixemo-nos de conversa fiada. Não há champagne nesta festa, em especial para o representante de uma empresa que financia esse vosso pasquim?
Levada pelo instinto, em pleno Salão Árabe do Palácio da Bolsa, Madalena levou a fina mão atrás e só a viu parar na face angulosa de Mário. O som ecoava como um relâmpago. O ruído de fundo calara-se e as objectivas dos fotógrafos ofuscavam o rosto endurecido de mulher despeitada.
Mário saía enfim de casa. O lusco-fusco daquele dia de Outono iluminava o seu carro topo de gama e dava um especial destaque ao smoking que comprara de véspera. O anterior estava fora de moda e a soirée por ocasião do primeiro aniversário da revista cujo nome lhe tinha passado por completo exigia especiais cuidados na indumentária. Estaria o presidente do conselho de administração da corretora em que trabalhava e, enquanto administrador com, de entre outras, a área das relações públicas, tinha de gramar festas do tipo.
Durante a viagem, a queimar os semáforos vermelhos, acordou para a realidade de ter de encarar Madalena. Desde que ela era directora da revista Tempo (afinal o nome aparecera-lhe com estranha clareza), as relações entre ambos haviam deixado aquele rame rame de um flirt que só lhe trouxera dores de cabeça. A mulher era danada! Inteligente, acutilante, adivinhava-lhe os pensamentos e desarmava-o de um certo charme que um trintão gosta de impor.
Aproximava-se agora do Palácio da Bolsa e entregava a chave a um daqueles moços simpáticos de gravata posta à pressa e que lhe faziam lembrar um galã de cinema dos anos 70 cruzado com um arrumador da modernidade.
-Vê lá se tens cuidado e não deixes que as tuas trombas falem por ti! – reflectia.
O ambiente era de luxo. Demasiado até para uma revista como aquela. Sorriu-se com malícia ao pensar que Madalena poderia estar a relacionar-se demasiado bem com o velho gordo e calvo que dirigia com pulso de ferro o grupo editorial em que a Tempo se integrava.
Cumprimentou uns quantos circunstantes e vislumbrou Madalena, de copo na mão, sorriso rasgado, vestido preto comprido colado ao corpo, de decote generoso e com a cabeleira negra que recordava das noites passadas a dois.
Apercebeu-se que ela o vira e que, de propósito, se enlaçara num abraço artificial com um fulano empertigado que conhecia de reuniões de negócios em Lisboa.
Por lhe dar especial gozo, dirigiu-se a Madalena como um verdadeiro profissional:
-Sra. Dra., em nome da Vince Consultants, endereço-lhe as mais vivas felicitações pelo sucesso que a Tempo tem registado ao longo deste ano!
Madalena estava incrédula e Mário sentia-se triunfante.
-Muito obrigada, Mário. Evite a formalidade falsa. Vai mal com o seu currículo.
Apesar da rapidez das frases, elas traziam um misto de surpresa, pouco à-vontade e daquela determinação que caracterizava Madalena.
-Sim, de facto o meu currículo é impressionante. Há uma ou outra mancha…
-Vícios ocultos, Dr. Mário?
-Encontros que nunca deviam ter acontecido. Mas deixemo-nos de conversa fiada. Não há champagne nesta festa, em especial para o representante de uma empresa que financia esse vosso pasquim?
Levada pelo instinto, em pleno Salão Árabe do Palácio da Bolsa, Madalena levou a fina mão atrás e só a viu parar na face angulosa de Mário. O som ecoava como um relâmpago. O ruído de fundo calara-se e as objectivas dos fotógrafos ofuscavam o rosto endurecido de mulher despeitada.
2 comentários:
O devedor inadimplente assustou-se com a interpelaçãozita... Eheh. O rumo que a história tomou foi, no entanto, completamente inesperado! Até a cor do vestido, agora é outra: ela ia buscar um vestido azul! E aparece de preto. Ela era (pelo menos, no retrato que dela fizera) uma mulher moderna "pró-desportivo" e agora aparece como femme fatale! .... Trocaste-me as voltas. Aviso já que vou precisar de algum tempinho para me recompor e continuar a história! :-)
PS - Estou tentada a aproveitar uma ideia muito interessante que me foi sugerida há um tempo atrás e que é capaz de te pôr em maus lençois! :-)
Fico à espera!
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