terça-feira, setembro 19, 2006

Curtas sobre Metragens

Havana, cidade perdida
Realização: Andy Garcia
Argumento: G. Cabrera Infante
Interpretações: Andy Garcia, Inés Sastre, Tomas Milian, Dustin Hoffman, Bill Murray
Classificacao: M/12
Duração: 143 m.

EUA, 2005



Através da história da família Fellove, Andy Garcia pretendeu fazer o (seu) retrato de um importante pedaço de história de uma cidade (Havana) e de um país (Cuba).
E fê-lo às claras. Logo no início do filme, assistimos, nos escritórios do fluorescente (e florescente) cabaret El Tropico, a uma reunião familiar da parte masculina do clã. Discutem o destino da família que se joga, também, na encruzilhada do destino de Cuba.
Estamos em 1958, numa Havana que mais do que uma "capital city", é sinónimo de "capital sin". Garcia pinta-a, num luminoso postal, como uma cidade divertida, despreocupada, onde se respira música e se vive inebriado ao ritmo da dança.
O paterfamilias Don Federico Fellove (Tomás Milián), especialista em Direito Constitucional, é professor universitário. Adepto do Zugzwang (táctica, no xadrez, que se traduz em manter a posição das peças, para não entibiar as possibilidades da vitória), acredita na força das palavras (invoca Séneca que sozinho derrotou Calígula e Nero), na construção ordeira de uma sociedade democrática e, portanto, na possibilidade de uma transição política pacífica. Não consegue, porém, convencer todos os seus filhos da bondade da sua tese.
Um deles, Luis (Nestor Carbonell) integra o Directório Revolucionário, rejeitando, ao mesmo tempo, o ideário dos guerrilheiros que se acantonam na Sierra Maestra (por ver neles, apenas, uns seguidores cegos do ideário fidelista, onde ele vislumbra autoritarismo em vez de pluralismo). Como Peligro, seu nome de código, luta pela liberdade e democracia, recorrendo à força das armas para derrubar Fulgêncio Baptista. Engrossa, depois, a extensa lista de vitimas da máquina de terror do ditador, que se limita a escolher se pretende que os inimigos sejam eliminados "com ou sem plumas". Luís perde, assim, a vida, mas ganha a aura de heroísmo, que mais tarde a sua viúva Aurora Fellove (Inês Sastre) pretende honrar e de que o regime castrista se vai, também, aproveitar (tornando-a viúva da revolução do ano)
Outro, Ricardo (Enrique Murciano), filho mais novo, junta-se a Che – bebe-lhe as palavras: "na insurreição (que é a luta armada), os fins (a revolução) justificam os meios - e a Fidel, alimentando assim a sua rebeldia de filho mimado de uma classe rica. Entra vitorioso, ao lados deles, em Havana, depois de Baptista ter abandonado o país na passagem para o ano de 1959. Mais tarde, é ele que, em nome do regime recém-instaurado, vai comunicar ao tio e padrinho Don Donoso Fellove (Richard Bradford), aquela que será a sentença de morte de ambos: a perda das terras que o latifundiário reservava, como herança, para o seu sobrinho. O primeiro morre do choque, o segundo não consegue sobreviver àquilo em que se tornara.
Por fim, outro, Fico Fellove (Andy Garcia), filho mais velho e dono do cabaret El Tropico, é um bon vivant, amante dos prazeres da vida e leal a todos os que lhe são próximos por sangue ou amizade. Para ele, a família vem sempre primeiro. Procura mantê-la, qual ilha, unida e ilesa, no mar revolto que a rodeia por todos os lados. O Tempo, no entanto, está contra ele!
A trama da historia é pontuada com imagens reais (só aí se vê o, então jovem, Fidel); é aligeirada com alguns apontamentos humorísticos (como o da proibição do instrumento capitalista que é o Saxofone, por ter sido inventado na Bélgica) e com as tiradas desconcertantes (algumas desconcertadas!) de um escritor sem nome (Bill Murray) que cai de pára-quedas no enredo.
O que dizer do filme? Podia concentrar-me na unidimensionalidade de muitas personagens, na linearidade do papel de Baptista, na inverosimilhança do mafioso interpretado por Dustin Hoffman. Podia considerar indesculpável a parcialidade da objectiva de Garcia, que, talvez influenciado pela sua própria história de exilado, olha apaixonadamente para História , tratando de modo diferente duas ditaduras Pinta com tintas muito mais escuras as atrocidades do regime castrista, envolvendo com um véu de nostalgia as do tempo de Baptista.
Não foi, no entanto, o que fiz. Deixei-me levar pela música (A banda sonora é cativante). Vivi o drama insular daquela família. Apreciei a fotografia - o cenário natural ajuda. Não desgostei de ver Andy Garcia na pele de galã (assenta-lhe bem, apesar de o ter preferido com a paleta de Modigliani). Saí, por isso, da sala de cinema agradada com o filme. São 143 minutos – podia/devia ser um pouco menos – de bom entretenimento.

2 comentários:

Joaninha disse...

143 minutos de Havana?! Não me parece muito!...
Não vi, mas posso dizer que gosto muito do estilo Andy Garcia enquanto actor, desconhecendo se também fica bem atrás das câmaras!
Mas como tenho a garantia que também aparece, aceito a sugestão.
Quanto mais não seja para recordar a cidade que adorei!

rtp disse...

Acho que dá para recordar a cidade. Não falo por experiência própria, porque nunca lá estive. Mas vi o filme com quem já lá esteve e reconhecem-se alguns edificios, praças, já para não falar nas praias de água límpida ... E isto apesar de o filme não ter sido rodado em Cuba, mas numa ilha vizinha.