quarta-feira, setembro 06, 2006

O Príncipe


O Príncipe viu hoje o Sol nascer
Envergonhado por entre brumas matinais.
Não tinha por hábito conjugar o verbo “comover”
E uma grossa lágrima despertou os madrigais.

Era esta a riqueza dos que à porta pediam?
A sucessão astral dos acontecimentos?
Ousara ele ser senhor dos momentos
E escutar apenas as paixões que em si viviam!

Mas não. Queria-se grande. Queria-se inteiro.
E sê-lo era anestesiar emoções,
Fazer da rotina lugar primeiro
E refrear em surdina as pulsões.

É certo que dos falhanços fizera materiais vitórias,
Mas à custa de acres glórias.

Permitiu-se um sorriso colegial.
Faria daquele dia um simples dia
Sem nada de especial
Excepto a certeza de que vivia!

F.L.

Quadro de Diego Vélasquez, Príncipe Carlos Baltasar, 1635, Museu do Prado, Madrid.

2 comentários:

rtp disse...

Muito bonito! E a "certeza de existir" já é uma boa razão para conjugar o verbo "comover". :-)

Anónimo disse...

É nos dias, simples, como o de hoje, que acontecem as coisas mais extraordinárias. É nesses momentos, em que nos "distraímos do calendário", que acontecem as coisas mais simples e mais bonitas.

FL, mais uma vez a encher o nosso dia com algo de especial. Será que este homem é um poço infindável de inspiração?