segunda-feira, setembro 04, 2006

Curtas sobre Metragens - A lula e a baleia



The Squid and the Whale, A Lula e a Baleia
Realização
: Noah Baumbach.
Elenco: Jeff Daniels, Laura Linney, Jesse Eisenberg, Anna Paquin, William Baldwin.
EUA,2005, 81 min.
Sítio oficial: http://www.squidandthewhalemovie.com/

O título do filme não era prometedor, mas o conselho de um Amigo que tenho por sábio, levou-me a ver a mais recente película de Noah Baumbach, considerada filme do ano pelo New York Film Critics Online.
Às primeiras cenas percebe-se que não é um vulgar argumento de um casal da década de 80 que se divorcia em virtude de incompatibilidades descobertas ao fim de 17 anos de casamento e, porventura, também por um ciúme mudo do marido – escritor outrora consagrado e hoje simples professor de literatura – ao observar de camarote a ascensão da mulher como romancista e colunista no The New York Times. Descobrem-se traições passadas com o refinamento próprio da maldade humana de deixar bilhetes comprometedores à vista de todos e ficamos ainda na dúvida se Bernard Berkman (o marido) – Jeff Daniels – não terá feito o mesmo a Joan (a mulher) – Laura Linney –, embora de modo mais recatado.
A narrativa vai sendo desenrolada pelo casal e pelos dois filhos que, numa «reunião familiar» são confrontados com a terrível notícia e com uma coisa moderna chamada «guarda conjunta». Cedo descobrem que este sistema de exercício do poder paternal os transforma em marionetas a correr de uma casa para outra, a ouvir os podres dos progenitores (Bernard é, neste particular, mais exímio), a confrontar-se com a realidade cruel de uma solidão ancorada na «guarda conjunta».
As desordens psicológicas são particularmente impressivas no filho mais novo (Frank, Owen Kline, 12 anos): trava contacto com as bebidas alcoólicas, masturba-se na escola e espalha o sémen pelas lombadas dos livros da biblioteca. O filho mais velho – Walt, 16 anos (Jesse Eisenberg) – só à primeira vista surge como um resistente. As idas com a mãe ao Museu de História Natural em que contempla a lula e a baleia são pedras em falta no edifício da maturidade que ainda está a construir. De forma arguta, numa narrativa aberta que surpreende o espectador, é esta a última imagem do filme.
Nota muito positiva para alguns momentos de fino humor, como aquele em que Walt convence os pais (e não só) de que compusera o Hey You dos Pink Floyd, bem como os diálogos serpenteados de tom hilariante que Bernard troca com uma aluna de 20 anos com quem namora, que traz para casa e por quem o filho mais velho se parece apaixonar, numa projecção freudiana.
Quase diríamos que se trata de um diário pelo qual perpassam mais factos que sentimentos. Na verdade, não estando estes últimos ausentes (veja-se as cenas em que Frank caminha num sentido de profundo desespero), o argumento quis mostrar com toda a crueza as consequências de um divórcio. Sem falsos moralismos, sem atribuições de culpas.
Desempenho a bom nível de Jeff Daniels e de Laura Linney, embora tenhamos sido mais sensíveis à expressividade do olhar do pequeno Owen Kline.
Filme urbano, de problemas do dia-a-dia, retrato de uma sociedade em que pouco se investe em instrumentos para aplainar as normais divergências entre personalidades. A não perder!

5 comentários:

rtp disse...

Fiquei com vontade de ir ver. Depois da sugestão do amigo bunkeriano, este comentário tornou imperdível uma ida ao cinema. :-)

Anónimo disse...

Hum...dá mm vontade d ver esse filme...;)

CoffeeCream disse...

o amigo especial bunkeriano também me deixou o bichinho, este post adensou a curiosidade e vontade de ver..não vou perder!

joaquim.guilherme.blanc disse...

Ó Mestre, eu sábio? como qualquer humilde bunkeriano, um mero aspirante a aprendiz :o) ...
muito boa crítica!

filipelamas disse...

Modéstia, modéstia! Fica-te bem...