Auto-retrato de Leonardo da Vinci (1512-1515)
"Era velho, certamente (por isso é que se lhe chama velho).
Mesmo assim: não é porque o velho fosse velho que ele era velho - ou seja, não era um senhor idoso (embora também não fosse jovem, claro) (por isso é que se lhe chama velho).
O mais simples, provavelmente, seria dizer a sua idade (se é que não temos horror a certezas tão duvidosas que mudam de ano para ano, de dia para dia, iclusive de hora para hora) (e quem sabe durante quantos anos dias e horas se estende a nossa história) (e em que sentido se estende e inflecte, a bem dizer) (por conseguinte, e repentinamente, encontrar-nos-íamos numa situação em que já não poderíamos assumir a responsabilidade das nossas afirmações irreflectidas)."
"A recusa", Imre Kertész, Editorial Presença, p. 13
1 comentário:
A palavra «velho» tem uma carga negra quase inexplicável. A própria sonoridade é desagradável e o eufemismo «idoso» é sempre uma manifestação do «politicamente correcto». Será que a idade devia pesar assim tanto?
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