sábado, julho 02, 2011

Vis



Paula Rego, Mulher-Cão, 1994.

Que vis expansiva é esta que sinto dentro de mim? Que gigante adormecido feito Adamastor habitava no topo de gárgulas de catedrais flutuantes em terrenos fosforescentes de ilusão? O que faço com esta força indómita que me leva ao infinito, que me conduz às portas da loucura e que de novo me abeira da normalidade do acontecer humano? Quem me conhece afinal, no mais fundo e num âmago que nem eu próprio conhecia?

Serás tu, na verdade, parente fiel que me segura a fronte caída e que por mim vela em noites de intensa febre e assintomáticas dores? Serás tu, irmão amado; tu sim, espécie de”herói por conta própria” como um dia escreveste? Para ti guardo o pecúlio acumulado com sacrifício. Com intenso sacrifício. Aquele que mais custa na vida, pois importou da vida desistir, ou ao menos de um segmento importante dela.

Erupção vulcânica de rochas basálticas. Tudo está a transformar-se. Mais verdadeiro, menos inquieto, mais seguro, de mim, de Ti, de todos. Depende-se um pouco menos das convicções externas. Afirma-se um pouco mais a pauta interna.

Os custos estarão para vir, a conta ter-se-á de pagar. Nessa altura recorrerei à fonte campesina das origens, à enxada de terras do Marão e correrei os vendilhões do templo. Haverá balanças injustas e desequilibradas pelo ar, moedas contrafeitas e grilhões de dor desapartados. Não haverá “choro e ranger de dentes”, pois de visão apocalíptica se não trata. Apenas uma rolha de um finíssimo champagne que se abre para ser bebido por bocas que se desejem abeirar do altar da partilha. Serão poucas as flutes servidas, mas o espaço do altar também é exíguo…

1 comentário:

Claudia Sousa Dias disse...

muitas felicidades!


um abraço.


csd