"Não se tinham adaptado a uma existência comum, às alegrias das pessoas normais, a um destino mediano; viviam lado a lado com a mesma esperança sem nunca falarem nisso, ou porque não se apercebiam ou simplesmanete porque eram soldados ciosos do pudor das suas almas.
Se calhar também Tronk, provavelmente. Tronk seguia à risca os artigos do regulamento, a disciplina matemática, o orgulho da responsabilidade escrupulosa, e tinha a ilusão de que isso lhe bastava. Mas se lhe tivessem dito: será sempre assim enquanto viveres, sempre igual até ao fim, também ele teria despertado. Impossível, teria dito. Algo diferente terá de acontecer, qualquer coisa realmente digna, que nos permita dizer: agora, mesmo que tenha chegado o fim, paciência.
(...)
Parecia que tinha sido ontem, contudo o tempo não deixara de se dissipar com o seu ritmo imóvel, igual para todos os homens, nem mais lento para quem é feliz nem mais veloz para os desventurados.
Nem depressa, nem devagar, três meses tinham passado. O Natal já se dissolvera na distância, e também o novo ano chegara, trazendo por alguns minutos estranhas esperanças aos homens."
"O deserto dos tártaros", Dino Buzzati, Cavalo de Ferro, 2008, pp. 60-61 e
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