domingo, janeiro 31, 2010

Invictus


Invictus, Clint Eastwood, 2009

Mandela: "Forgiveness liberates the soul.
It removes fear. That is why it is such a powerful weapon."
Invictus

Out of the night that covers me,
Black as the pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds and shall find me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.

William Ernest Henley (1849–1903)

quinta-feira, janeiro 28, 2010

65 anos - Early Night Post (68)

“(…) porque o Lager é uma grande máquina para nos reduzir a animais, nós não devemos tornar-nos animais; (…) também neste lugar se pode sobreviver, e por isso, é preciso sobreviver, para contar, para testemunhar; (…). Que somos escravos, privados de qualquer direito, expostos a qualquer injúria, condenados à morte quase com certeza, mas que uma faculdade nos restou, e temos de a defender com todo o vigor porque é a última: a faculdade de negar o nosso consentimento. (…) Temos de engraxar os sapatos, não porque a tal obriga o regulamento, mas por dignidade e por propriedade. Temos de caminhar direitos, sem arrastar as socas, certamente não em homenagem à disciplina prussiana, mas para nos mantermos vivos, para não começarmos a morrer.”
***
“É Null Achtzehn. Não tem outro nome, Zero dezoito, os últimos três algarismos do seu número de matrícula: como se cada um se tivesse apercebido de que só um homem é digno de ter um nome, e de que Null Achtzehn já não é um homem. Penso que ele próprio se esqueceu do seu nome, age sem dúvida como se assim tivesse acontecido. Ao falar, ao olhar, dá a impressão de estar interiormente vazio, nada mais do que um invólucro , como algumas cartilagens de insectos (…), pegadas por um fio às pedras, e sacudidas pelo vento."
***
25 de Janeiro [de 1945] Como nos cansamos da alegria, do medo, da própria dor, do mesmo modo também nos cansamos da espera. Chegados a 25 de Janeiro (…), a maioria de nós estava demasiado exausta para esperar. (…)

26 de Janeiro [de 1945]. Jazíamos num mundo de mortos e de larvas. O último vestígio de civilização desaparecera à nossa volta e dentro de nós. (…)
Uma parte da nossa existência reside nas almas de quem entra em contacto connosco: eis porque é não-humana a experiência de quem viveu dias em que o homem foi uma coisa aos olhos do homem. Nós os três [Levi, Charles e Sómogyi] devemos uns aos outros ter conseguido evitá-lo em grande parte (…)
Mas a milhar de metros por cima de nós, nos rasgos entre as nuvens cinzentas, desenvolviam-se os complicados milagres dos duelos aéreos. Por cima de nós, nus, impotentes e inermes, homens do nosso tempo procuravam a morte recíproca com os instrumentos mais requintados. Um gesto do seu dedo podia provocar a destruição de todo o campo, aniquilar milhares de homens; enquanto o conjunto de todas as nossas energias e vontades não chegria para prolongar um minuto a vida de um só de nós.

27 de Janeiro [de 1945]. Madrugada (…)
Os russos chegaram enquanto Charles e eu levávamos Sómogyi para um lugar pouco afastado. Estava muito leve. Virámos a maca na neve cinzenta.
Charles tirou o boné. Tive pena de não ter boné. (...)"

Primo Levi, "Se isto é um homem", Teorema, 2009, p. 40, pp. 43-44 e pp. 174-176.

quarta-feira, janeiro 27, 2010

Tempo

Depois da chuva ...



quarta-feira, janeiro 13, 2010

I love the rain ...

... the most when it stops.

Por Joe Purdy.

terça-feira, janeiro 12, 2010

Birds

Por EmilianaTorrini

Let's stay awake and listen to the dark

Before the birds, before they all wake up

(...)

Lend me your wings and teach me how to fly

Show me, when it rains

The place you go to hide

segunda-feira, janeiro 11, 2010

Early Night Post (67)

L`Espoir Rapide, Réné Magritte, Hamburg-Kunsthalle

"Todos descobrem, mais tarde ou mais cedo na vida, que a felicidade perfeita não é realizável, mas poucos se detêm a pensar na consideração oposta: que também uma infelicidade perfeita é, igualmente não realizável. Os momentos que se opõem à realização de ambos os estados-limites são da mesma natureza: derivam da nossa condição humana, que é inimiga de tudo o que é infinito. Opõe-se-lhe o nosso sempre insuficiente conhecimento do futuro; a isto se chama, num caso esperança; no outro, incerteza do amanhã. Opõe-se-lhe a certeza da morte, que impõe um limite a qualquer alegria, mas também a qualquer dor."
Primo Levi, "Se isto é um homem", Teorema, 2009, p. 15

quarta-feira, janeiro 06, 2010

Early Night Post (66)

A adoração dos Reis Magos, de Jan Brueghel, "O Velho"


A Estrela

Eu caminhei na noite
Entre silêncio e frio
Só uma estrela secreta me guiava

Grandes perigos na noite me apareceram
Da minha estrela julguei que eu a julgara
Verdadeira sendo ela só reflexo
De uma cidade a néon enfeitada

A minha solidão me pareceu coroa
Sinal de perfeição em minha fronte
Mas vi quando no vento me humilhava
Que a coroa que eu levava era de um ferro
Tão pesado que toda me dobrava

Do frio das montanhas eu pensei
«Minha pureza me cerca e me rodeia»
Porém meu pensamento apodreceu
E a pureza das coisas cintilava
E eu vi que a limpidez não era eu

E a fraqueza da carne e a miragem do espírito
Em monstruosa voz se transformaram
Disse às pedras do monte que falassem
Mas elas como pedras se calaram
Sozinha me vi delirante e perdida
E uma estrela serena me espantava

E eu caminhei na noite minha sombra
De desmedidos gestos me cercava
Silêncio e medo
Nos confins desolados caminhavam
Então eu vi chegar ao meu encontro
Aqueles que uma estrela iluminava

E assim eles disseram: «Vem connosco
Se também vens seguindo aquela estrela»
Então soube que a estrela que eu seguia
Era real e não imaginada

Grandes noites redondas nos cercaram
Grandes brumas miragens nos mostraram
Grandes silêncios de ecos vagabundos
Em direcções distantes nos chamaram
E a sombra dos três homens sobre a terra
Ao lado dos meus passos caminhava
E eu espantada vi que aquela estrela
Para a cidade dos homens nos guiava

E a estrela do céu parou em cima
de uma rua sem cor e sem beleza
Onde a luz tinha a cor que tem a cinza
Longe do verde azul da natureza

Ali não vi as coisas que eu amava
Nem o brilho do sol nem o da água

Ao lado do hospital e da prisão
Entre o agiota e o templo profanado
Onde a rua é mais triste e mais sozinha
E onde tudo parece abandonado
Um lugar pela estrela foi marcado

Nesse lugar pensei: «Quanto deserto
Atravessei para encontrar aquilo
Que morava entre os homens e tão perto»

Sophia de Mello Breyner Andresen, Livro Sexto, pp.29-31

We Three Kings



Na versão dos Blondie ... para o blog entrar em 2010 (finalmente!) com energia e diversão, e encerrar as festividades natalícias.

Um óptimo 2010 para todos!