La Ley de Herodes (México, 1999), realizado pelo conhecido Luis Estrada, é uma metáfora sarcástica e muito bem conseguida do poder político.
Algures numa aldeia perdida do México, em 1949, um humilde e ainda puro funcionário público e do partido PRI é enviado para San Pedro de Saguados, onde o anterior “presidente municipal” havia sido assassinado brutamente pela população.
As eleições estavam próximas e não se podia correr o risco de o Governo não conseguir dar conta de uma insignificante aldeia.
Escolhido por ser pouco dotado pela inteligência, Juan Vargas, então supervisor de limpeza municipal, chega a uma aldeia sem lei, ou melhor, apenas com a lei da corrupção. Vários métodos são experimentados e apenas o crime parece resultar. O outrora simples e honesto Juan transforma-se no mais abominável político pronto a tudo fazer para conseguir extorquir dinheiro ao povo.
As teias de dependências, o castelo de cartas construído com base em favores pessoais e os altíssimos custos que uma aparência de democracia sempre importa, fazem deste filme um excelente exemplo de como o poder corrompe. Rousseau havia de o ter aplaudido de pé e Maquiavel não renegaria os seus ensinamentos.
O nosso Eça ou, antes dele, o nosso Gil Vicente reconhecer-se-iam na crítica do clero, no papel dos pequenos poderes provincianos. Os juristas veriam a autocracia no seu extremo e deliciar-se-iam com o modo extra-rápido de operar revisões constitucionais profundíssimas!
Em ano de tantas eleições, a representação de Juan (Damián Alcázar) não desmerece tantas que são vão vendo por aí. E não falo na América Central ou Latina…
E a moralidade da história? A corrupção compensa. Assim, com toda a impunidade. E com toda a realidade.
Apetece repetir, como na película, ¡O te chingas o te f****!…, ¡El que no tranza no avanza! e ¡Este país no tiene solución!