René Magritte, Le fils de l'homme, 1964.
Em mim mesmo não caibo.
A minha pele estica e sobrepõe-se
ao ser que debaixo dela irrompe.
Em cada manhã me contemplo
e estranho, como a água estranha
a quentura e por isso borbulha.
Em meus ossos me não parto.
Mas também me não sinto.
Sou um fato sem cabide, despido
de irreverências e de rebuços, tailorado
em fazenda axadrezada de vida exagerada.
Ao contrário de Pessoa, tudo nada
exagero
e assim me motivo e passo indelével
pelos dias loquazes.
Parece que caibo em minha carne
quando calco o empedrado da rua e
em solas vivo.
Mas é mesmo minha a carne,
ou do estranho que nela habita?
Filipe Lamas
2 comentários:
Belíssimo poema!
Palavras pungentes para descrever um sentimento dilacerante!
Parabéns pela beleza do poema, poeta filipelamas!
Que poema, Filipe!
(Comentário atrasado mas sempre a tempo para um texto destes.)
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