Quem ontem se deslocou à Faculdade de Direito do Porto e assistiu à representação da peça “Quinto Império”, da obra de Fernando Pessoa, pelo “DireitoàCena”, grupo de teatro daquela instituição de ensino, composto por actuais e antigos estudantes e por docentes daquela Casa, teve a oportunidade única de viajar, guiado pelo próprio, pelos incomensuravelmente difíceis meandros do génio criador do nome maior da Poesia portuguesa.
Com base na carta de Fernando Pessoa a Adolfo Casais Monteiro, sobre a génese dos seus heterónimos, numa interpretação muito inspirada de Sérgio Rocha, íamos ouvindo dizer e viver Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis e o próprio Pessoa. Cada palavra era sentida e dita com garra, com bonomia, com paixão, desalento, sofrimento.
O universo pessoano ia desfilando perante um cenário minimalista e muito bem iluminado (parabéns ao Afonso Bianchi), em que as demais actrizes, vestidas de batas brancas que conjugavam a loucura de manicómios e a assepsia da alva cor, pelas vozes, corpos e movimentos de Inês Vouga, Joana Neto, Liliana Borges da Costa, Margarida Correia, Maria Raquel Ferreira Neves e Marta Faria.
Nunca se fica igual de encontros com a obra de Pessoa. Quando ela é tão bem interpretada, só desejamos sonhar com guardadores de rebanhos, mensagens, opiários, mostrengos…
Quem não viu ainda, tem oportunidade hoje e amanhã, às 21.30 h. O bilhete custa 5 € e pode ser comprado na portaria da FDUP durante o dia ou antes do espectáculo.
6 comentários:
;-)
Em nome do Grupo de Teatro, obrigada pelas palavras!
Sim, é verdade!
Vale mesmo a pena assistir a este belo espectáculo!
Estão todos de parabéns!
Também eu, em nome do Grupo de Teatro, agradeço as gentis palavras, e é um prazer representar e fazer diferença em que nos ouve,sente, vê...repito: ouve, sente, vê. E é de materiais como estes que a saudade se constitui.
Só me apercebi hoje - após 'segunda volta' de poemas e emoções - da importância que o público assume para quem está a representar. Se calhar os papéis deviam estar invertidos - o actor tem que ter o talento e o poder de conseguir dominar uma sala. Não deve nunca ser um elemento frágil e à mercê dela (dizem...). Mas a verdade é que o comportamento do público me (nos?) afecta de uma forma inesperadamente desarmante. E com um público como o de ontem, quem esteve em palco (neste caso, 'em palco') sentiu uma felicidade genuína por estar ali e, à mistura com nervoso miudinho e medo de falhar, viu-se dominado por uma vontade imensa de libertar todas as emoções que tinha dentro de si e de as transportar para um todo que não representava mas fazia, claramente e também, parte do espectáculo.
Mais compensador ainda foi o feedback que recebemos no fim, quando tivemos um corredor inteiro (literalmente) à nossa espera. Obrigada pelas palavras - as de ontem e as de hoje - que fazem este trabalho valer (tanto) a pena.
(Inês Vouga)
André, obrigada pelas palavras que nos enchem de orgulho. Diz-nos a nossa pequena Inês da importância que o público assume para quem está a representar: e está certa. O que nos faz voltar a cada ano, e os mais experimentados nestas andanças que o confirmem, são as palmas... esse calor que delas vem... que nos enche e completa, que nos faz querer regressar à cena todos os dias do resto da nossa vida. Meninas, (pequeninas), não vos tinha dito? Um beijo a todos e muita merda para hoje.
Lila
PS: Diz-nos a Anabela Leão que temos duas novas candidatas do 2º ano para o direitoÀcena. Eu aposto em três: o Noronha não faltará ao encontro! Obrigada a todos os fdupianos que me fazem nunca querer perder os laços à casa.
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