Fission, Bridget Riley, 1963, Museum of Modern Art, Nova Iorque.
Ofereci-te apenas um ponto.
Dele fizeste mil pontos
dos quais brotaram
pontos de interrogação
admirados, surpreendidos.
Entreguei-te, então,
dois pontos:
iniciaste um diálogo
em travessões
virgulados
no local exacto onde,
por magia,
as «pausas» entre aspas
tocaram as linhas
exclamadas de
sussurros aspirados
por sílabas átonas.
As tónicas
há muito se escaparam
para local onde, ouvidas
em gaitas de fole
tocadas nos sopés
dos montes,
te lembram sem cessar
que toda a pontuação
do mundo jamais
será capaz de conter
a torrente
que das comportas
do meu Ser
tão suspensas estão
das reticências do teu esgar.
F.L.
6 comentários:
Muito giro, mesmo.
Este excedeu todas as expectativas. Muito bom! :)
Muito bem conseguido!
(Num à parte: tão mal tratadas andam por aí os pontos, as vígulas, as exclamações, interrogações... toda essa panóplia de pequenas ferramentas que fazem de um texto um esclarecimento, uma declaração, um pedido, um poema...)
Lindo poema! E quão profundo!
Tal como em outra qualquer narrativa, grande parte do segredo da felicidade da nossa existência está na sua pontuação.
É um dom saber virgular, abrir um parentesis, colocar umas reticências, um ponto de interrogação ou (ainda melhor)um ponto de exclamação ... no momento certo. Todo um novo mundo de sentido pode nascer de uma correcta (e de uma incorrecta) pontuação!
E que bom é ter uma existência bem pontuada!
Volto a dizer, líndissimo poema!
este é diferente, não é? gostei muito!:)
p.s. acho q o pedro mexia - que recentemente declarou guerra aos pontos de exclamação - ía tremer a ler este poema!!!!!!eheh
adoro reticências, são o meu sinal de pontuação preferido. deixam tudo em aberto, uma sensação de novo mundo ;)
o poema, como sempre, está muito bonito. e já agora as editora quasi, está sempre à procura de novos talentos :)
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