"(...) - Vêem-no? Estão a ver-lhe a história? Vêem alguma coisa? Até parece que estou a tentar convencer-vos de um sonho – tentativa inútil porque um relato de o sonho não transmite a sensação-sonho, aquele emaranhado de absurdos e surpresas, o desespero da angústia de sermos aprisionados, a sensação de sermos presas do inacreditável que é verdadeira essência dos sonhos ...
Fez um instante de silêncio.
- ... não, é impossível; é impossível transmitir a sensação-vida de uma época que vivemos – aquilo que constrói as suas verdades, o seu significado – a sua penetrante e subtil essência. É impossível. Vivemos como sonhamos – sós ... "
Joseph Conrad, "O coração das Trevas", Editorial Estampa, p. 51
* Aproveito o ensejo para sublinhar a grande qualidade da peça baseada no conto de Conrad “An Outpost of Progress” que bebe a inspiração no livro que acabo de citar, apresentada, pelas Visões Úteis em parceria com o Teatro Nacional de S.João, no Teatro Carlos Alberto. Por causa da magnífica "A frente do Progresso" (com encenação e interpretações notáveis) comprei e li o poderoso "O coração das trevas".
4 comentários:
Neste âmbito, recomendo-lhe a leitura do poema "The Hollow Men" de T. S. Eliot - desconheço tradução portuguesa, mas certamente que existe. Aqui fica o original:
http://www.cs.umbc.edu/~evans/hollow.html
O poema representa várias perspectivas da passagem duma alma pelos "reinos da morte" (embora seja altamente simbolista), e bebe inspiração, entre outras obras conhecidas, em "o Coração das Trevas", como se pode de resto ver na referência da epígrafe ao singular Mr. Kurtz.
Pedro Soares
gostei muito rtp. quanto ao poema que recomendaram, conheço bem e também acho que vai gostar, se é que já não conhece. :)
Não conhecia o poema. Obrigada, Pedro.
Vivemos só como sonhamos.
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