Narcissus, Caravaggio, c. 1595, Palazzo Barberini, Roma.
Roubaram-me a vida!
De um dia ter existido.
Uma certidão,
Um papel que ilustra
Um nascimento,
Um casamento,
Uma morte.
Registo, averbamento,
Acto jurídico primeiro e derradeiro.
Nas pegadas da Lei
Perdido entre artigos
Permissivos de um nome
Que me identifica,
Que dos outros me aparta.
Resta o embalo da sereia,
Projecto de ser que devaneia,
Em busca de um quê
Inexistente,
Brilhante.
Temperada de Emoção,
Com uma pitada de Rasgo
E um pingo d’Encanto.
A mesa está posta,
Os convivas instalados,
Só falta o condimento
Que de sal feito mar
Em ti reside,
Qual perfume selvagem
Inebriante,
Enervante.
Roubaram-me a vida!
F.L.
3 comentários:
Adorei este "Roubo"... Muito real, enfeitado de palavras humanistas... Lindo!!
Interessante poema!
Sobre temáticas que me são caras. Não o roubo, claro está! :-)
Tudo que se passa é vida, será que ela memo não será roubo de nós mesmos....afinal quem é que pediu para nascer....Belíssimo...Um garnde abraço
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