sexta-feira, novembro 24, 2006

Funeral

Corpo que parte
Em caixão reluzente,
Empunhado por quantos
Em vida a amaram,
Amachucado por outros
Que sempre a odiaram.
Os sinos retinem,
As farpelas reluzem,
O caminho feito de sacrário
É percorrido debaixo de chuva
Intensa, aborrecida, ofendida.
O púrpura do pastor
Das almas confiadas
Contrasta com a cor
Dos abutres que corpo ainda quente
Deitam contas à vida
E só por uma réstea de vergonha
Não assaltam a algibeira da morta.

Despachar se pretende
O momento de luto mascarado
De conversas inúteis
De gente circunstante
Que conta piadas,
Que ri apressada,
Que reza e se benze,
Que persigna e se ajoelha.

Remendo de gente,
Espelho de alma,
Quem disse que a Morte
Não é engraçada?

F.L.

1 comentário:

Anónimo disse...

boa noite Filipe imagens cruas e verdadeiras, neste teu fantástico poema....um grande abraço