domingo, novembro 12, 2006

Curtas sobre Metragens


Titulo: Rapariga com Brinco de Pérola (Girl with a Pearl Earring)
Duração: 96’
Ano: 2003
Realizador: Peter Webber
Argumento: Olivia Hetreed
Actores: Colin Firth, Scarlett Joahnsson, Tom Wilkinson

Num sábado à noite mais caseiro, olhei de soslaio a estante e deparei com um filme integrado nesta mania de acenar aos leitores dos jornais com um bónus dado já não bastar o periódico em si.
Baseado no romance aclamado de Tracey Chevalier, Girl with a Pear Earring baseia-se, como se sabe, no famoso quadro de Johannes Vermeer (1632-1675), pintor holandês que viveu e morreu em Delft (pintura hoje à guarda do Mauritshuis, Haia) e cuja vida se encontra, ainda hoje, envolta em grande mistério. Em especial a pintura em causa é, em regra, considerada como tendo sido inspirada na filha mais nova do pintor – Maria.
O argumento transforma uma excelente Scarlett Joahnsson em Griet, criada que vai servir para a casa de Mestre Vermeer (Colin Firth). Para além das dificuldades iniciais de uma vida duríssima numa Holanda ainda dilacerada pelas divisões Protestantismo/Catolicismo (estamos em 1665), Griet deixa-se enamorar pela arte do seu patrão e, em consequência, pelo próprio. Paixão essa que permanece sempre platónica, embora pelo menos em dois momentos o espectador esteja prestes a ver concretizados os desejos dos dois personagens. Curiosa é, do prisma da densidade psicológica de Griet, que a mesma, sabendo o amor com Vermeer impossível, canalize a sua paixão para um jovem talhante a quem se entrega, certamente pensando naquele que verdadeiramente ama. Apesar de o argumento estar a bom nível, eis um ponto que não é suficientemente explorado.
Fotografia e guarda-roupa irrepreensíveis, mereceram nomeações para os Óscares, a que acrescentaríamos nomeação para melhor actriz principal de Scarlett. Alia, na perfeição, o ar angelical com a volúpia do desejo mal escondido num corpo jovem, bem como a ignorância das letras a uma inteligência emocional fora do comum, capaz de ver a arte nas nuvens do céu e numa simples cadeira que estraga a composição cénica que serve de base a uma obra encomendada a Vermeer.
O quadro e a sua feitura ocupam – como não podia deixar de ser – grande parte do argumento, o qual termina com realismo, mas de modo perfeitamente expectável. Os brincos da mulher de Vermeer só poderiam servir de pagamento a Griet pela inspiração e como prova envergonhada de um amor proibido.

1 comentário:

rtp disse...

Este é um dos meus filmes preferidos. A fotografia é magnífica! A paleta de cores é extraordinária! E convém referir que a responsabilidade pela fotografia do filme é de um português, Eduardo Serra que, apesar da nomeação, falhou, pela segunda vez, a conquista do Óscar.
Tinha lido com anterioridade o livro de Tracy Chevalier. Cumpri, também aqui, o lema de ler primeiro o livro e depois ver o filme - o que normalmente se traduz numa tremenda desilusão com o filme. Não foi, no entanto, o caso. Devorei o livro num par de dias. Adorei! Também gostei muito do filme - pelo enredo, pelo retrato de uma época e da paisagem do norte da Europa, pelas interpretações. A da Scarlett Johansson, sem dúvida! E também a de Colin Firth, o eterno Mr. Darcy...!
Não tendo visto in loco o quadro em questão, vi, no início deste ano, um sucedâneo do mesmo autor, Woman With a Pearl Necklace que se encontra na Gemaldegalerie em Berlim. Igualmente muito expressivo. E ficou-me a questão: também este daria uma bela história?