quarta-feira, outubro 25, 2006
Alma
A alma prostra-se sob o manto triste e soturno. As veias secam à passagem da tua lembrança. Os finos cabelos que me restam no alto de uma cabeça que outrora supus altiva e arrumada desistem de combater o pente em que os queres encerrar e enfileirar em uma beleza que contrasta com a fealdade do que me cerca. Apetece-me hoje sorver dos teus lábios as palavras que em vão me dirigiste quando, em momentos áureos, me avisavas temerosa do abismo para que caminhava. Agora que te observo deste gélido leito em que me encontro, peço-te que contenhas a lágrima que claudica o sopro de gemido que trazes no teu peito. Não por tua causa, que o egoísmo sempre me caracterizou. Mas por mim, que não posso neste momento levantar-te e enxugar-te o rosto. Não me concedas a derradeira humilhação de te ver chorar e de não te ser útil, ou melhor, de não me ser útil a mim mesmo por teu intermédio. Sempre fui assim. Não é a visão da morte que o alterará. A fria pedra tumular que sobre o fato preto e os sapatos novos e engraxados já vou sentindo selará apenas uma parte de mim. A velhacaria permanecerá. Sobre ela se contarão histórias e formarão mitos. Dirás que eu era uma alma torturada. E se eu te disser que nem alma tinha?
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