quarta-feira, setembro 13, 2006

Chove


Joseph Mallord William Turner. Rain, Steam and Speed. 1844
The National Gallery , London


Chove na minha rua.
O tom cinzento do céu emoldura os contornos das casas
De uma cor de prata
Reflectida na água envergonhada que cai.
A ondulação de uma palmeira
Traz-me a lembrança do sol
Que partiu, que fez as malas
E rumou ao encontro de outros cheiros.
A pele já me devolve a frescura ansiada,
A roupa regozija-se pela sua utilidade acrescida.
Recosto-me na cadeira,
Contemplo estes caracteres escritos
Contra virtual página branca.
Rio-me desta mania de descrever sentimentos
Que porventura nem a mim interessam.
Sinto a paz dedilhada em cada tecla
E anseio, numa calma esperançosa,
Aquecer uma vida que está morna,
À espera de uma torrente que a tome.

F.L.

10 comentários:

rtp disse...

Mais um muito belo! :-)

Black Cat disse...

Eu gosto do cheiro a terra molhada destas primeiras chuvas....mas já faz lembrar o Outono...os dias quentinhos de Verão já partiram...snif snif...e eu k gosto tanto de SOL!!!

Um sorriso sempre com muito SOL!!!!

;), Miau

Joaninha disse...

Estou a ver que temos aqui um talento escondido!

Claudia Sousa Dias disse...

Excelente, Filipe!

Adoro-te neste registo!


CSD

joaquim.guilherme.blanc disse...

subscrevo, rpt. particularmente os últimos nove versos, de grande coerência outonal.

Anónimo disse...

Grande Sensibilidade, bom gosto, actualidade e sobretudo bonito poema.
Muitos parabéns, pelo poema pelo blog no seu todo, mesmo muito bom,e sobretudo pela possibilidade que me deu de poder partilhar e admirar essa obra prima...Obrigado...
Ps. Pelos vistos nada é perfeito e o Filipe parece-me que não é do clube da nossa cidade, paciência....parabéns pelo resultado do Sporting que jogou bem e tem uns miúdos extraordinários.

sombra disse...

O Professor Rufino estaria, estou certo, orgulhoso com o menino Filipe... :-)

filipelamas disse...

Bem vindo, sombra! É sempre um gosto ter por cá o meu companheiro dos bancos de escola! O que a malta se divertia nas aulas do Rufino! Bons tempos... Melancolia de estarmos a ficar velhos:)

Anónimo disse...

Já por várias vezes tentou-me a vontade a deixar um comentário a estas tuas "descricões de sentimentos"... Mas, ao contrário de ti, as palavras fogem-me com os sentidos que procuro, deixando-me assim, invariavelmente, a olhar a janela, vazia!....A dificultar, há sempre o embaraço de poder descortinar um pouco do nosso íntimo ou mesmo de procurar o do autor... porque ainda que este se apresente um fingidor de sensações, "finge tão completamente, que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente."...
Gosto da forma como caprichosamente baralhas e danças as palavras, conseguindo, contudo,uma clara transparência de sentimentos que se sentem sem esforço. E disso, poucos "fingidores" são capazes.
Contudo, confesso que de todos os que li, este "preencheu-me" em particular. Porque, inevitavelmente, me faz esperguiçar na calmaria de uma tarde ociosa de inverno, sem mais nada, que não esse aconchego de prazer. E que eu tanto gosto!...

Beijinhos!

filipelamas disse...

Minha querida HS,

Muito obrigado pelas tuas palavras e pela tua amizade. Ambas deixaram-me muito comovido!

Bjs muito grandes!!