domingo, agosto 27, 2006

Post scriptum


Alves & Ca., Eça de Queirós, Lello & Irmãos Editores, Porto, s/d.

Ainda Eça. Alves & Ca., apresentado em nota prévia pelo filho do escritor (José Maria d’Eça de Queiroz, 1925), responsável pela sua publicação póstuma como um pequeno livro, escrito de um jacto e sem correcções, como era apanágio de Eça apresenta-se, na verdade, como uma obra menor na bibliografia queirosiana.
Não pelo tamanho, mas sim pelo carácter despretensioso que o autor lhe desejou imprimir. Retrato da sociedade burguesa lisboeta do séc. XIX, a trama centra-se na traição de Godofredo Alves, rico comerciante, pela sua mulher Lulu, apanhada em dia de aniversário de casamento a ser cingida pela cintura por Machado, sócio e protegé do marido ferido, que andara com este ao colo e o recebera de braços abertos – também devido à invulgar argúcia para o negócio que Machado demonstrava – na sociedade comercial e na vida privada.
A partir daqui, o mundo de pequenos prazeres – leitura ao final do dia com Lulu a costurar a seu lado, casa bem arrumada, uns leves arrebates carnais – da personagem principal desmorona-se e nasce o férreo desejo de vingança. Depois de algumas peripécias em que Eça descreve com nitidez o conceito de honra da época, um duelo de morte é posto de lado, Lulu vai com os pais para a Ericeira, a fim de «calar a maledicência». Godofredo tem de continuar, por imperativos de cavalheirismo que desconhece (guiado pelos amigos Carvalho e Medeiros), a ver Machado diariamente e a sua existência, como descreve o autor, torna-se «abominável».
Não mais aguentando tal padecimento, o marido traído aproveita um pequeno episódio para reconquistar Lulu. Godofredo volta a ser feliz e, depois de uma série de desgraças na vida de Machado, a amizade reata-se mais forte que nunca. A partir daí, a traição e o desejo de vingança que se lhe seguiu é caracterizado como uma «grande tolice», rematando o personagem central com um seco «que coisa prudente é a prudência».
Retrato de conceitos como a honra, as regras sociais, o choque entre uma nobreza arruinada mas ciosa de pergaminhos de conduta cavalheiresca são o húmus de que se nutre este romance. Tudo de forma muito leve, lida de um trago, a saber a pouco.
De facto, como em tudo, o bom só o é por comparação ao menos bom. Na literatura esta afirmação é a mais crua realidade: por mais genial que o escritor seja – e Eça é-o –, a centelha luminosa não resplandece a cada namoro que a pena tem com o papel.

1 comentário:

Donnie disse...

Hola!!

Gracias por tu comentario en mi blog!!

Me encanta que la gente deje su presencia en la página.

Vuelve cuando quieras y deja tus comentarios, siempre es bueno contrastar opiniones.

Yo soy Gallego, de La Coruña y más o menos me entiendo con el Portugués!!

Saludos!!