segunda-feira, agosto 28, 2006
Curtas sobre Metragens
United 93, Vôo 93
Duração: 90 min.
Origem: EUA, 2006.
Realização: Paul Greengrass.
Argumento: Paul Greengrass.
Produção: Zakaria Alaoui, Tim Bevan, Eric Fellner, Lloyd Levin, Mairi Bett.
Acabo de ver o United 93 (Vôo 93). Quase cinco anos volvidos sobre aquela manhã de 11 de Setembro de 2001, o mundo não é já o mesmo, descontada a normal evolução (ou involução) que Cronos a todos nos traz.
Dedicado à memória daqueles que sofreram na pele os horrores do fanatismo religioso, o filme impressiona pela objectividade com que a História é contada. Não se detectam moralismos, sentimentalismos patrióticos bacocos ou um excessivo aproveitamento da desgraça. Tudo, enfim, ao invés do que de mau uma certa corrente de Hollywood representa. Mesmo as notórias falhas de coordenação entre os serviços estatais é assumida de forma não titubeante.
O argumento e a realização andam de mãos dadas numa sinfonia bem orientada. A escolha do ângulo do único vôo que, graças à intervenção de cidadãos anónimos, falhou o seu alvo, é uma homenagem pela positiva ao abominável desespero que enlutou os EUA e o mundo. Ver na desgraça uma luz de esperança, representada pelos passageiros que, seguros da morte, conseguiram evitar um mal maior, é um hino sério à resistência dos espíritos livres que, contra o terrorismo, decidem não abdicar dos valores que as sociedades democráticas defendem. George W. Bush devia ver este filme e reflectir na sua mensagem à medida que vai aniquilando as liberdades civis no País mais esquizofrénico e complexado do planeta. Sob pena de passarmos a ter uma espécie de «sociedade de inimigos», sendo indiscutível que os Estados devem dotar-se de instrumentos jurídicos aptos a permitir uma eficaz resposta à «peste do séc. XXI», nada justifica medidas como o «Patriot Act».
Destaco ainda a inexistência de protagonistas dado que, na realidade, personagens foram todos os que, naquele dia, acordaram para um choque civilizacional que se adivinhava e com o qual teremos de continuar a lidar.
Termino com uma tocante cena do filme: poucos segundos antes de o avião se despenhar, as orações sentidas de muçulmanos e cristãos a Deus e a Alá fazem-nos acreditar que, não sendo o «ópio do povo», as religiões são antes, no fenómeno terrorista, uma justificação metafísica para algo bem mais terreno – o poder.
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6 comentários:
Também já vi, e subscrevo.
Já agora, de assinalar que muitos dos intervenientes não são actores profissionais mas sim familiares dos reais protoganistas, sendo que algumas das pessoas - nomeadamente nas torres de controle - são as reais. O que significa também decerto uma forma de catarse.
Vi o filme e subscrevo quase tudo.
O que mais gostei foi a coragem de se mostrar a falta de coordenação.
Como há uns tempos um holandês que vive há mais de 40 anos nos EUA me dizia:
Os americanos não precisam de pensar, têm a CNN que pensa por eles.
Bem, confesso que estava um pouco céptica em relação ao filme. Vou ver com outra abertura, fiquei curiosa.
Um beijo
Ainda não o vi e parece que fiz mal. Na Segunda fui ao cinema e por acaso vi um bom filme: A Lula e a Baleia. Está no Cidade do Porto.
Também vi e antes até estava um pouco céptico. Acabei por gostar. A realização está muito boa e a sequência narrativa cativante. Agora há que explorar o filão, depois do Vôo 93, virá o "World Trade Center", etc, etc, etc.
Movida pelo excelente comentário do filipelamas, fui ver o filme. Gostei do tom neutral da narração. O relembrar dos factos gerou um novo arrepio, agora anestesiado pela distância temporal e pela ausência do factor surpresa.
Também fiquei tocada com o sobrepor de preces com destinos desencontrados (?).
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