sábado, julho 15, 2006

Rembrandt




O pintor da luz e da cor, exemplo do Barroco na pintura, nasceu há precisamente 400 anos. O holandês de família humilde conheceu a ascensão, a glória e o declínio, tudo isto acompanhado de tragédias pessoais (três dos seus quatro filhos morreram e, depois, o mesmo destino leva a sua amada Saskia van Uilenburgh) e de uma dose daquele ingrediente a que chamam «loucura», o qual acompanha todos os grandes génios.
A obra de Rembrandt Harmenszoon Van Rijn, o pintor de Leiden, é o mais eloquente discurso que lhe pode ser dirigido. O exagero dos auto-retratos, a luminosidade da sua Lição de Anatomia do Dr. Nicolaes Tulp (1632), o maldito quadro Nightwatch (a tradução portuguesa é má), início do fim dos compradores das suas obras, são meros exemplos da paixão com que o artista pintava.
Contudo, sempre que contemplo O Regresso do Filho Pródigo, uma sensação inexplicável invade-me. Não apenas por ter lido o famoso livro homónimo de Henri Nouwen (4.ª ed., Braga: Ed. A.O., 1999), mas simplesmente pelo modo como as mãos do pai recebem o filho que tudo gastara «em uma vida dissoluta». Mãos enrugadas, calejadas, ternas, quase andrajosas.
Ao fim e ao cabo, recordar Rembrandt é também, para mim, lembrar a casa paterna, o vínculo familiar indissolúvel e a certeza de que nesse local, por mais que não sejamos dignos dele, a luz do pintor encontrará o melhor ângulo sobre a mesa posta em festa pela magia do regresso.

Obrigado, Rembrandt!

De cima para baixo:
*O Regresso do Filho Pródigo, c 1668/69, The Hermitage, S. Petersburgo, Rússia.
*Rembrandt a Desenhar a uma Janela, 1648, Rijksmuseum, Holanda.
*A Lição de Anatomia do Dr. Nicolaes Tulp, 1632, Mauritshuis Museum, Haga, Holanda.

4 comentários:

Sooty And Aive disse...

Por que razão escreves "o maldito Nightwatch"?

filipelamas disse...

Pelo facto de, segundo os biógrafos de Rembrandt, ter sido o quadro que corresponde ao início do fim das encomendas de clientes ricos e famosos. O mandante, um capitão muito bem colocado, queria uma alegoria a uma batalha e o pintor não esteve pelos ajustes. Maldito também no sentido em que a liberdade, neste caso, de criação artística, paga-se cara mas é ela que fez de Rembrandt o que ele é.

Diafragma disse...

Desculpa o comentário fora do contexto, mas é só para responder à tua pergunta no Fotoescrita:
O local é Opatija (lê-se Opatia) e corresponde à Nice da Croácia, onde o Tchekov, o Mahler etc. passavam as suas férias de Verão.

filipelamas disse...

Muito obrigado! O local deve ser fenomenal!