terça-feira, fevereiro 22, 2011

Tretas sobre neve


Temos paz e cólera dentro de nós. Construção e destruição. Vida e morte. Amor e ódio.

E de tudo isto, o que fazemos? Nada. Limitámo-nos a viver tudo isto. Quantas vezes fulminando de cólera quem nos ama e amando quem nos odeia sem que saibamos. (ou mesmo não o ignorando). Nascemos, procriamos (ou não, parece que não é obrigatório) e morremos (esta sim, não se pode passar). Há quem diga que nada de nós fica sobre a terra. Que o fim é simplesmente o fim. O grande vazio, o silêncio eterno. Se assim fosse, porém, como explicar que um desconhecido nos atraia de imediato e um outro nos cause repulsa, sem sequer ter aberto a boca? Como justificar que tenhamos a sensação de ter já vivido algo que se assemelha tanto ao que está a suceder? Há momentos em que sabemos o que o interlocutor vai dizer. Palavra por palavra, como se fossemos o encenador de uma peça que só conhecemos em parte, desconhecendo sempre o fim.

Há, só pode haver, um projecto, uma força, um Ser que vive sem tempo nem espaço. Que se deve fartar de rir com os nossos melodramas, com as nossas glórias, com as nossas pedinchices. Que se ria! E que lhe saiba muito bem! De que adianta dizerem-me que são coisas menores quando são as minhas coisas? O que é humano nunca é menor. Necessita de ser integrado, de ser visto em perspectiva, por certo, mas nunca é menor. Não se criticam sentimentos. Pode e deve, quantas vezes, ajudar-se a ver outros.

***

O branco das árvores, dos seus troncos, e o leito em que a cidade está envolta convidam à reflexão que só as águas permitem. Estas, em estado mais sólido, têm a vantagem de fixar as imagens, ainda que pouco ou nada nítidas. Mas fixam-nas. E não há como a segurança para um Touro. Eu diria, para qualquer ser humano. Bem-vindos à neve!

2 comentários:

Anónimo disse...

Não fazia ideia que estava tão longe... Há alunos mesmo distraídos :p
Mas o que é certo é que algo tinha que se passar... Talvez a distância das pessoas de quem gosta, do mini-país e da metrópole o estejam a deixar melancólico e a pensar em coisas de uma forma que em nada encaixam com o seu (aparente?) perfil...
Rápidas melhoras**

filipelamas disse...

Caro Aluno anónimo,
Se reparar bem, o que escrevi tem até uma enorme carga de esperança... Não fui apoderado pela famosa "saudade"...
Muito obrigado pelos votos de rápidas melhoras, pois já estou em forma!