quinta-feira, novembro 25, 2010

Dos Homens e dos Deuses (Des hommes et des Dieux)

Dos Homens e dos Deuses
Realização : Xavier Beauvois
Argumento: Etienne Comar, Xavier Beauvois
França, 2010, 122 min.

“Dos Homens e dos Deuses” é um filme superior. Daqueles que se demoram muito a escapar da atenção de quem os viu.

A história, baseada em factos verídicos (um conjunto de monges cistercienses que vivem num Mosteiro em Argel em harmonia e cooperação com a população local e são atingidos pelo acção terrorista de grupos de fundamentalistas islâmicos), é contada, por Xavier Beauvois, de um modo muito verdadeiro. Sem artifícios, sem excessos. No tempo devido, com vagar e placidez.

Mas a atenção do espectador não se perde na maior lentidão da narração (sobretudo no início do filme), antes podendo espraiar-se pelos preciosos pormenores de bom gosto que se multiplicam ao longo da história. Penso, por exemplo, nos momentos de reflexão e debate interior da personagem Christian num diálogo mudo com a paisagem circundante e do momento em que finalmente toma uma decisão e como que agradece o esclarecimento a uma árvore secular vizinha. Penso, também, na dança de emoções ao som de uma obra de Tchaicovsky e em tantos outros momentos.
É muito curioso, aliás, que, não havendo nos primeiros 20 minutos do filme extensos diálogos, se consiga perceber o carácter e sentimento das várias personagens (algumas sem terem enunciado uma palavra) e se consiga intuir acertadamente a resposta que darão quando forem confrontados com a decisão de partir ou ficar. A primeira resposta. Depois virão as dúvidas que com eles vivemos e compreendemos.
As interpretações são muito boas, tão boas que quando acompanhamos a história daquele grupo de monges nos esquecemos dos actores que os interpretam. É, por isso, com alguma injustiça para os demais que destaco Michael Lonsdale, como médico Luc, e Lambert Wilson, como irmão Christian.
Parece um filme de outro tempo, feito a partir de uma realidade também de outro tempo e provinda de um espaço distante. E, no entanto, é um filme demasiado próximo e actual.
Não é um filme sobre heróis, a menos que sejam uns heróis diferentes cheios de dúvidas e incertezas e com muitas humanas fraquezas. Diria antes que é um filme sobre os ramos em que os pássaros anseiam por pousar.

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