sábado, maio 09, 2009

Early Night Post (57)

Réné Magritte, The false mirror

“As sombras da alma. As histórias que os outros contam sobre nós e as histórias que contamos sobre nós próprios: quais são as que mais se aproximam da verdade? Será assim tão evidente que são as próprias? Será que cada um é uma autoridade para si próprio? Contudo, essa não é verdadeiramente a questão que me ocupa. A verdadeira questão é: haverá, nessas histórias, uma diferença entre verdadeiro e falso? Em relação a outras histórias sobre aspectos exteriores ela existe, de facto. Mas o que sucede quando nos dispomos a compreender alguém na sua interioridade? Será que essa viagem algum dia terá fim? Será que a alma é um espaço habitado por factos? Ou será que os supostos factos não passam de enganadoras sombras das nossas histórias?
(…)
Gregorius pensou que isso também era válido para os olhares. Não era que os olhares estivessem lá e fossem simplesmente lidos. Os olhares eram sempre interpretados. E só existiam enquanto interpretados, enquanto objectos de uma leitura subjectiva.”

Pascal Mercier, Comboio Nocturno para Lisboa, Dom Quixote, p. 145 e pp. 418 e 419.

3 comentários:

Mutante disse...

A beleza, ou o que mais seja, das coisas (e também das pessoas...) está sobretudo no olhar do observador. E o que sucessivamente nos encanta, e desencanta para depois encantar de novo, e por isso nos faz voltar, são as cambiantes das sensações que colhemos.

rtp disse...

É verdade, mutante!
Para além do que refere, também é de ressaltar que não só as visões de um dado "objecto" variam de observador para observador, como também se distanciam muitas vezes da visão que o próprio observado tem de si próprio.
Se todas as visões são subjectivas, a do próprio observado sobre si próprio terá mais verdade que a de qualquer um dos outros terceiros observadores?

Mutante disse...

Creio de não, por ser, penso, a mais apaixonada das visões. Mas qual delas importa, afinal? Também isto não é objectivo (felizmente).