domingo, outubro 05, 2008

Ser Professor

Sebastião Artur Cardoso da Gama (1924-1952)


Provavelmente já não serás publicado no dia que se convencionou ser "do professor", como se todos os dias não fossem de alunos e professores. Mas também nunca fui fã desta coisa dos "dias de". Sim, ainda tenho imenso gozo em ser professor. Apesar de tudo. E este "tudo" é, muitas vezes, imensa coisa e nada, tudo ao mesmo tempo. Transpor a porta de uma sala de aulas é um enorme desafio, embora o final seja sempre o mesmo: saio mais rico do que entrei. E não é, certamente, por aquilo (tão pouco!) que possa ensinar (tanto mais que existe uma diferença cada vez mais abissal entre o que ensino e o que se pratica "de Direito"...), mas pelo egoísmo bom de sair mais rico. Sorrisos, novas expressões, novas formas de estar e de pensar. Um mar de novidades. Quando deixar de ser assim (e estou seguro de que esse dia virá), estará na altura de procurar uma profissão, pois ser Professor (agora sim, com maiúscula!) é um turbilhão de emoções e sentimentos, não uma mera profissão.
Como não conheço forma mais bela de definir a atitude de ser Professor, peço licença a Sebastião da Gama (ele não se importaria) para fazer minhas as suas palavras e, acima de tudo, agradecer a quem é a razão de ser deste dia: os Alunos!

Janeiro 12

«O que eu quero principalmente é que vivam felizes».
Não lhes disse talvez estas palavras, mas foi isto o que eu quis dizer. No sumário, pus assim: «Conversa amena com os rapazes». E pedi, mais que tudo, uma coisa que eu costumo pedir aos meus alunos: lealdade. Lealdade para comigo, e lealdade de cada um para cada outro. Lealdade que não se limita a não enganar o professor ou o companheiro: lealdade activa, que nos leva, por exemplo, a contar abertamente os nossos pontos fracos ou a rir só quando temos vontade (e então rir mesmo, porque não é lealdade deixar então de rir) ou a não ajudar falsamente o companheiro.
«Não sou, junto de vós, mais do que um camarada um bocadinho mais velho. Sei coisas que vocês não sabem, do mesmo modo que vocês sabem coisas que eu não sei ou já esqueci. Estou aqui para ensinar umas e aprender outras. Ensinar, não: falar delas. Aqui e no pátio e na rua e no vapor e no comboio e no jardim e onde quer que nos encontremos».
Não acabei sem lhes fazer notar que «a aula é nossa». Que a todos cabe o direito de falar, desde que fale um de cada vez e não corte a palavra ao que está com ela.

Sebastião da Gama, Diário.


4 comentários:

rtp disse...

Belíssimo texto de Sebastião da Gama. Também muito belas, as tuas palavras.

. disse...

subscrevo.
a minha senda de estudante ainda não acabou, apesar de já ir longa e já ter corrido todos os campos, das ciências às letras e à arte, mas sei perfeitamente indicar onde e quando senti verdadeiramente o bom de aprender e com quem. muitos momentos, de tão simples e sinceros que foram, ficaram para sempre gravados e ensinaram-me verdadeiras lições de vida, ou permitiram-me descobrir verdades que para mim eram mistérios ainda.
tenho um agradecimento profundo às pessoas que me mudaram dessa forma, e felizmente ainda me dou com alguns ;)

Anónimo disse...

OBRIGADO PROFESSOR(A)! Esta é a frase que melhor poderá definir o meu estado de alma, quando termina mais uma aula, leccionada por essa personagem," a quem cabe o papel Principal no Palco do direitoàcena", e de que muitos se esquecem da sua importância! obrigado, essencialmente por duas razões: por teres dado por terminado a aula(porque também por vezes o tempo do homem, não é o tempo dos ponteiros do relógio), e obrigado por te teres empenhado através do teu olhar, do teu sorriso, do teu ralhete, do teu murro na mesa, da tua anedota, dos teus erros, em formar pessoas íntegras! Por vezes,sinto-me como Pessoa na vossa presença, já que é misto o sentimento que sinto: de alegria em aprender, e de tristeza em ver que nem sempre o que se aprende é concretizado( sobretudo nesta area do direito, onde ele, apresenta-se aos nossos olhos- e recorrendo aqui a autorictas de um dos meus estimados professores- como um poeta; e como "o poeta é um Fingidor", o direito também o será!) DE facto fico fascinado com o vossa "iurisprudencia", com a vossa forma mentis juridica, que em atitudes de monologos legislativos, conseguéis dialogar com a lei, indagando-a, e invadindo a sua intigridade física, delimitada pela sua letra, partindo em busca do seu espírito, resignando-vos em serdes "la bouche de loi". Por vezes é tamanha a admiração,que nutro pela vossa capacidade jurisgénica , que chego a temer que se transforme em inveja! estarei eternamente grato para com todos aqueles que um dia contribuíram decisivamente para ser, antes de mais um ser INTEIRO! Não sou mais do que um pedaço de vós, e sem vós não chegaria a sê-lo"! OBRIGADO MEUS ESTIMADOS E HONRADOS PROFESSORES- jaz aqui o sentimento que me vai na alma, que por lá estar enraizado, a título "ex nunc" necessariamente deixar-me-á eternamente na situação DE VOSSO ALUNO!

filipelamas disse...

Caros judas e anónimo,

Apesar de exagerados os elogios, muito e muito obrigado pelas vossas palavras!