sábado, junho 21, 2008

Pintado de Fresco (VIII)

NOTA DA ADMINISTRAÇÃO

No já longínquo mês de Novembro de 2006, o Pintado de Fresco conhecia o seu último episódio, a que se seguiu uma espera de quase dois anos.
A administração do Tretas entendeu que esta novela dos tempos modernos, escrita a quatro mãos entre mim e a rtp, a que se juntará - esperam
os nós - a querida rocky, tinha de regressar, após sentirmos uma vaga de fundo a que não pudemos ficar indiferentes:)
Pedimos ao vastíssimo auditório que clique na etiqu
eta em baixo deste post e releia os episódios anteriores, de modo a perceber o que ora se publica.
Aguardamos a vossa crítica sincera e temos já de marcar um evento social pelo renascimento desta que é uma pérola da nossa literatura:)


Mário já não se sentia assim desde que, aos quinze anos, no colégio interno para onde os pais o haviam desterrado, conseguiu chegar à fala sobre “coisas de gente grande” com a escultural professora de Inglês, vinda de um mundo diferente, mais ousado, mais desligado de preconceitos e que, sem ele o imaginar, já antevia um futuro de “lady” com o Fontes Jr., por entre peles caríssimas e férias o ano inteiro.
Fora, na verdade, a sua primeira grande desilusão. Depois daqueles encontros furtivos e tórridos junto à praia da Memória (tão adequadamente colocado lhe parecia agora o nome…), adolescente/jovem/adulto, um misto de tudo e de nada, um turbilhão de emoções galgando comportas, sentira que Kate se limitava a ver nele um enorme e chorudo livro de cheques. Correra com ela, por entre berros assustadores em final de tarde de Outono, condizente o tempo meteorológico com o tempo do sentir que ameaçava despedaçar um corpo ainda tão jovem.
Tentava afastar esse pensamento à medida que, sobre as 13 h, se aproximava da entrada do Meridien.
“Deixa-te de infantilidades! É só uma mulher! Mais uma… Não. Mais uma não vale a pena… Já chegou a Madalena!”, parecia rezar em voz baixa. “Como se chama a menina da vespa?...”, o esforço era notório, pois a ressaca ainda não levantara ferros por completo. “Ah! Isso! Margarida!... Eh, pá… Mais um M…”
Já próximo das 13.30 h, o desânimo começou a vencer Mário. Olhava para todos os lados, à procura da rapariga cujo rosto tão claramente ficara gravado na sua retina e, quanto mais vislumbrava os transeuntes, mais se convencia que aquele encontro havia sido um tremendo erro.
“O que vai ela pensar de mim? Como pude ser capaz de deixar um bilhete com o meu número? Já não me conheço…”
As duas horas já haviam feito a sua entrada. O telemóvel permanecia mudo. Nem sinal de Margarida. Tivera o impulso de lhe ligar, mas entendia esta “provação” como o justo castigo pela sua inabilidade.

***

Perto do Mondego, alguém passeava com Alberto Caeiro debaixo do braço. “O guardador de rebanhos” para uma ovelha tresmalhada. A personagem caminhava de semblante pesado, porém sereno, como se transportasse o peso do mundo.
Uma carrinha com os dizeres “Associação Juntos Venceremos”, vestida de um bege muito sujo, já em final de vida, fez soar uma chiadeira aparentada de travões.
- Rodrigo, ‘bora pró Porto, carago!

3 comentários:

rtp disse...

Muito bem! :-)
A novela "Pintado de Fresco" já estava praticamente esquecida!
Vou reler tudo com atenção e logo que possa pego no fio da história!

Joaninha disse...

A inspiração não se esgota por estes lados... A chegada do Verão fez renascer a história! Esperamos os próximos episódios!

Toutinegra Futurista disse...

Pois é! Lembro-me de seguir esta novela! Exclente ideia!
Eu lá vou continuando com as minhas modestas aventuras!
Um abraço fugidio e boas escritas!