segunda-feira, dezembro 10, 2007

Curtas sobre Metragens: Paranoid Park






Paranoid Park

Argumento e realização: Gus Van Sant (baseado na novela Paranoid Park, de Blake Nelson)
Elenco: Gabe Nevins, Dan Liu, Jake Miller, Taylor Momsen.
Sítios oficiais:

http://www.paranoidpark.co.uk/ e http://www.paranoidpark-lefilm.com/
França/EUA, 2007

Gus Van Sant tem-nos habituado a entrar em mundos mais ou menos desconhecidos do grande público, conjugando temáticas gastas com um olhar penetrante e quase ingénuo sobre realidades que preferíamos, tantas vezes, esconder debaixo do tapete.
No seu mais recente filme, o realizador aborda a comunidade skater, os dramas de um adolescente de 16 anos filho de pais em processo de divórcio, a queda de valores sociais, a relativização do valor da vida e, sobretudo, as consequências que uma decisão pode ter no nosso quotidiano.
Alex, miúdo quase normativo, comete um crime e decide não revelá-lo a ninguém. Escreve sim uma carta, que no final queima, a Macy, amiga acidental. A história desenrola-se em analepses quase constantes, porventura de uso exagerado. As técnicas de desfocagem são amiúde usadas e o início da película quase nos transporta para o Blairwitch Project, tamanha é a movimentação da câmara. Felizmente as coisas estabilizam e as tensões da personagem principal desenrolam-se em tom apropriado, triste, mas acima de tudo sério.
Se tivesse de destacar uma frase do filme, a mesma seria da excelente banda sonora que mistura sons tão variados como clássica, punk, rock, rap e country. Deste último estilo, a frase: die like a man.
Alex está a tentar entrar no mundo dos adultos. Fá-lo da forma mais complexa: pelo desafio às normas, pelo ocultar de algo que provoca fortíssima dor interna mas que, na perspectiva do adolescente, o tornará independente.
As filmagens decorrem, em boa medida, no mais conhecido parque de skaters de Portland, Oregon, EUA, também conhecido por Punk Park (nome oficial, O’Bryant Square). Assinale-se alguma perda de intensidade a meio do filme, o que o torna de alguma forma monótono.
Porventura o prémio obtido por Paranoid Park no 60.º aniversário de Cannes deve-se mais à qualidade da novela homónima de Blake Nelson do que à magia de Van Sant, bem melhor em outras películas.

3 comentários:

rtp disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
rtp disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
rtp disse...

Gostei muito de ler esta "curta sobre metragem"!
Estou com grande vontade de ver este filme.
Li, aliás, a propósito dele um interessante comentário de Daniel Sampaio, na Pública deste domingo, que vê o parque como "a metáfora das «paranoid adolescences» dos nosso dias".
A propósito da tua opinião menos abonatória do filme sobretudo quando comparado com filmes anteriores do mesmo autor - maxime o "Elephant" - lembrei-me que li ou ouvi (já nem sei!) aquando do Festival de Cannes um comentário no sentido de que este filme, por versar sobre o mesmo universo do filme anterior, acabava por merecer menos aplauso do que mereceria. Como que se o sabor à déjà-vu contaminasse as pupilas ("gustativas"!) do espectador que, com algum preconceito, não vislumbrasse toda a qualidade do filme...