Fernando António Nogueira Pessoa nasceu há 119 anos, exactamente no dia em que se comemora o Santo padroeiro da sua cidade natal. Não consta que fosse religioso, mas amava a sua cidade.
Lembrar Pessoa é sempre recordar uma parte de nós.
Que melhor forma de o homenagear que não seja através da sua poesia?
Fica aquele que é, para mim, o poema que mais necessitamos todos de ouvir, nesta época da nossa vida colectiva, e aproveitando ainda os ecos do 10 de Junho.
Lembrar Pessoa é sempre recordar uma parte de nós.
Que melhor forma de o homenagear que não seja através da sua poesia?
Fica aquele que é, para mim, o poema que mais necessitamos todos de ouvir, nesta época da nossa vida colectiva, e aproveitando ainda os ecos do 10 de Junho.
O MOSTRENGO
O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
A roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-Rei D. João Segundo!»
«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João Segundo!»
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»
Na noite de breu ergueu-se a voar;
A roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-Rei D. João Segundo!»
«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João Segundo!»
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»
6 comentários:
O(s) nosso(s) maior(es) escritor(es) nasceram faz agora 119 anos. Que a sua literatura seja eterna em nós e que nos dê orgulho em ser português... "Minha pátria é a língua portuguesa"...
É o meu poeta de eleição, por isso li o teu post com especial agrado!... E a "Mensagem", com o seu "Mostrengo" é, sem dúvida, dos textos mais emblemáticos!
Belíssima homenagem a um escritor genial!
Um poeta a descobrir e a redescobrir todos os dias e durante milénios... ainda há tanto para descortinar sobre ele, e tanto nós descortinamos sobre ele (e sobre nós) de cada vez que lemos um dos seus escritos! ;)
Nevoeiro
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer -
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quere.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a Hora!
Valete, Frates.
Ao ler o 'Mostrengo' não pude deixar de me lembrar do 'Nevoeiro'.
Sempre achei o "Mostrengo" o poema com maior Portugalidade. - Pricipalmente : - «Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;«
1Ab
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