quarta-feira, junho 13, 2007

Curtas sobre metragens - Climas


Título original: Iklimler / Climates
Relizador: Nuri Bilge Ceylan
Interpretações: Ebru Ceylan, Nuri Bilge Ceylan, Nazan Kirilmis
Género: Drama
Classificacao: M/12
Estúdios: NBC Productions
FRA/Turquia, 2006, Cores, 101 min.

O filme chama-se "Climas" (Iklimler) e retrata as mudanças climáticas que assolam a relação de um casal (Isa e Bahar), à medida que as estações do ano se vão sucedendo.
Tudo começa em período estival nas paradisíacas praias de Kas. As nuvens que toldam o semblante de Isa, apesar do sorriso com que procura iluminá-lo, prenunciam tempestades que o sereno azul do céu ainda não permitiria antecipar.
Com o vento que varre a paisagem e à medida que o estado climatérico se vai agravando, conhecemos, num passar de tempo em ritmo quase real (a lentidão de alguns planos, ainda que quase sempre compreensível, roça o excessivo), o deserto em que Isa e o seu marido se movem. A ausência de diálogo, o desencontro de interesses, a pretérita traição que intuímos são sinais (efeitos?) de uma solidão vivida a dois.
Sinais que os espectadores lêem ao mesmo tempo que os protagonistas. A tempestade instala-se então. O filme retrata-a ao mesmo tempo que nos dá a conhecer, no Outono de Istambul, o percurso proceloso daquelas duas almas melancólicas separadas por um abismo cavado na distância dos seus mundos, dos mundos que foram construindo.
A meus olhos, essa narrativa poderia ter sido desfiada de uma outra forma. Ganharia se se descontasse a presença desnecessária de episódios anódinos ou inconsequentes (a história do PC que estranhamente aparece ligado!) e se se suprisse a ausência de episódios reveladores da essência da história contada.
Tenho, no entanto, de aplaudir aquele que me parece ser o tom característico do filme: a sua genuinidade. Revelada na pureza dos sons – da chuva, dos passos, da respiração, do movimento da areia. – e na limpidez da imagem. É muito belo o plano da praia quando Isa sonha, ou aquele em que ela espreita por uma janela enevoada, já para não falar naquele que encerra o filme.
Gostei de "Climas", quarta longa-metragem de Nuri Bilge Ceylan, realizador que é também o protagonista do filme (na tela é uma espécie de George Clooney da Turquia, tomando de empréstimo uma opinião e imagem alheias!) junto da sua mulher, Ebru Ceylan.
O filme não o é, nem suscita, um intenso dilúvio de emoções. Revela-se, apenas (?), como uma vagarosa e prolongada morrinha de afectos. A cena final dos flocos de neve que cobrem de Inverno a paisagem ainda enevoa a minha alma.

5 comentários:

Joaninha disse...

Dá para ver que gostaste... Não conhecia a história e parece-me uma boa criação - aproveitar a passagem das estações para analisar a evolução de uma relação!
Sejas benvinda à escrita, depois da maratona... A minha está prestes a começar!

x disse...

vou ver amanhã!a descrição, em certos pontos, fez-me lembrar o que senti ao ver o '5x2' do François Ozon. :)

filipelamas disse...

Verdadeiro retrato vivo e impressionante de um filme que me ficou a martelar cá dentro. Diz-se que somos o espelho do tempo (clima) que nos rodeia. Porventura a maior beleza do filme está em provar o contrário: são os sucessivos climas que nos vão acompanhando em dias solarengos de férias ou em dias de nevões em que pedimos perdão e descobrimos que chegamos tarde demais.
Óptimo regresso da RTP a uma rubrica de que é Mestre!

x disse...

fui vê-lo ontem. cheguei a casa e pensei vir escrever, mas estava demasiado extasiada.

soube-me bem a lentidão dos planos. constatei a lentidão da vida, o conjunto de silêncios que preenchem os nossos dias e a dificuldade de sermos confrontados com eles, na tela.
a genuinidade, como diz a rtp, é, sem dúvida, o traço fundamental do filme (também para mim). aconchegando-nos os sentidos.a fotografia (de gökhan tiryaki)enche-me todas as medidas. a banda sonora ou a sua ausência quase total fez-me lembrar uma frase de um amigo «cada vez as bandas sonoras me fazem mais confusão», esta era perfeita.respeitando os espaços próprios dos sentimentos, das emoções, dos silêncios tão constantes.
há muito tempo que um filme não me fazia sentir tão... sem definição possível.
há um conjunto de imagens que sei que ficarão para sempre. e a ebru ceylan é simplesmente a mulher mais bonita que já vi.tão bela...

White Castle disse...

Sei que estou a comentar o post bastante tempo depois do mesmo, mas só hoje fui ver o filme, no meu querido Cineclube de Amarante. Sobre ele digo, o filme é mais profundo do que parece, muito mais! RTP, queria perguntar-lhe a sua opinião sobre o final, terá ele partido no avião ou n?