quinta-feira, maio 17, 2007

Rimar contigo

Resgatei as palavras do olvido
para rimar sobretudo contigo.

Não domino as palavras
nem o calor que ontem me davas.
Coloquei as ditas
em uma sala de visitas
com vista para os teus lábios
de tremores solidários.
Fiz dançar as vogais
em passos matinais
e das consoantes
fiz cavalos andantes.
Pus de parte a pontuação
por não querer contenção.
Fui pelas palavras traído,
mas sê-lo é não conhecer olvido,
é perpetuar e ser perpetuado
e com isso mudar nosso Fado.
Traição palavrosa
é ínfima centelha da amorosa
que não destrói, só mata
o cordel que o sentimento ata.
Digo-te adeus, palavra alucinada
em boca há tanto anunciada
por essa coisa irregular
a que alguns chamam gostar.

Resgatei as palavras do olvido
para rimar sobretudo contigo.

F.L.

7 comentários:

Anónimo disse...

Very good FL

ml disse...

permita-me usar algo seu: "Fantástico jogo de palavras!" ;) de facto... perfeito :) *

Gabriel Villa disse...

se você não sabe lidar com as palavras, quem sabe?
parabéns...

verde disse...

Que poema lindo....

Amândio Sereno disse...

Bem, não quero ser repetitivo mas está de facto muito bom e sobretudo - fazendo a devida ressalva - nada lamechas, atenta a susceptibilidade do tema.

P disse...

Mais um excelente texto, Filipe.
Um abraço

rtp disse...

Lindo, deveras! Muito lindo! Ainda bem que resgataste as palavras do olvido para delas fazeres este belo poema!
Vendo um tal "dominio da palavra" parecem improváveis as "traições palavrosas" de que o poeta se lamenta. A existirem encontram, porém, nesta rima uma preciosa atenuante (ou agravante?). *