terça-feira, maio 29, 2007

Lava


Diego Velasquez, La Fragua de Vulcano, 1630, Museo del Prado, Madrid.

Na escuridão do teu corpo
acendi uma vela
e deixei-a arder até ao fim.
Do pavio sobrante
fiz um laço que dobrei
em dois, depois em três.
Enrolei-o num dos teus dedos
e selei um amor
que oiro não conhece,
só prata da brisa
que passa e garante
que o perfume que trazes
em vão nunca será
e que a carne perfumada
que me entregas
nunca será banal
ou coisa semelhante.

O dorso em que te deitas
está agora escuro.
Dedilho míope
as palavras nas escarpas
do teu corpo.
Na tua geografia me perco,
nos teus vales descanso,
nas planícies de ti
repouso o olhar com vista
para um mar
mais um magma
que em ti se hospeda
e ameaça brotar
pela encosta dos teus seios,
tudo destruindo e
tudo (re)construindo.

No sopé dos montes
de lava
florescem as mais formosas
flores
e tu, no teu corpo,
reúnes o canteiro mais estimado,
mais cuidado,
mais meu.

F.L.

14 comentários:

verde disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
verde disse...

Mais um bonito poema. Desta vez não apenas bonito. Sensual. Intenso. Ainda ontem estava a ler uma compilação de poesia do Vasco Graça Moura e pensei...este sr tinha muito a aprender com o FL. Não me identifiquei nada com a poesia dele. Coisa que não acontece com a poesia do FL. Lindíssimo este poema.

rtp disse...

Para este poema só uma palavra: incandescente!

Joaninha disse...

Um poema apaixonado e contangiante, de que destaco os três primeiros versos. Como se deixassem transparecer um ritual de procura do melhor cenário...

ml disse...

fenomenal. muitos parabéns. tem uma intensidade indescritível. *

Anónimo disse...

hummm... onde irá FL buscar inspiração para tão belos e intensos versos. Segundo dizem, verdadeiro poeta é aquele que sente o que escreve e para o qual a pena vibra em cada pulsar da alma.
;)
Abraço,
LPC

J disse...

Um belo poema erótico, sem dúvida.

Anónimo disse...

Com paixão, Com alma Com força,
apesar de estar habituado a bons poemas do Filipe, na minha modesta opinião talvez seja o que de melhor li até hoje. pura e simplemente LUMINOSO !
PARABÉNS,
Um abraço

maria disse...

belíssimo! que o encantamento não finde.

filipelamas disse...

Caros todos: só posso agradecer as palavras imerecidas! Ainda tenho tanto a aprender e o Vasco Graça Moura bem podia disponibilizar-se para me dar umas aulitas!!
Caro LPC: a inspiração está no mundo:))
Caro azulebranco: aquele abraço sincero!
Cara maria: sempre com palavras doces!
RTP: "incandessente", como diria alguém que nos é muito querido!

x disse...

é tão bom ler e sentir as palavras. ao ler este poema lembrei-me de um amigo que me dizia ,não poucas vezes, sente as palavras, xana, são sempre diferentes...quando se lê um poema uma vez, quando se lê três.parabéns. tem uma beleza diferente dos demais poemas que tem escrito , e é muito bem conseguido esse travo de diferença. parabéns.

ignotu disse...

Gostei!
Por vezes deambulo também por esses jogos de palavras, cheias de sentido e de sentido dúbio, e pergunto-me se ousarei alguma vez colocá-los à merçê da opinião dos outros.

Anónimo disse...

Uma vez mais uma surpreendente obra de FL! Adorei o início do poema.. são verdadeiramente envolventes os três primeiros versos...
Então a inspiração está no mundo... gostei muito dessa.. em qual mundo? No mundo de todos ou no teu mundo?
Bem, continua nesta onda de sensualidade poética que, com um jeitinho ainda dás o salto para o erótico e tornas-te num novo Bocage..

Claudia Sousa Dias disse...

Amo Velásquez. Eamo a lava que lhe escorre dos olhos para as telas...

CSD