Bleu nuancé
"Vem um belo dia em que esta visão, esta miragem, este sonho, esta febre, esta doença, pode mais do que nós. A vida habitual pesa no nosso espírito como o trambolho no pé de uma galinha, dilatam-se-nos os pulmões, tresdobra-nos a vida, falta-nos o ar em nossas casas, falta-nos a água nas nossas fontes, falta-nos o espaço nas nossas ruas. A cidade então é pequena e o passeio é pouco. Quer-se a viagem, a liberdade a largueza da terra, a vastidão do mar e amplitude do céu – o mundo! Não há outro remédio nestes casos senão fazer o que eu fiz: arranjar a mala e partir.
Para onde? para qualquer parte. Para quê? para voltar depois, porque se volta melhor do que se foi; mais instruído, nem sempre; mais ensinado, sim. Pode-se não aprender nada novo, mas fica-se sabendo melhor o que já se sabia dantes.
E depois, no regresso, o prazer de chegar ... Que há aí no mundo que se lhe compare? (...)
Saudade! amorável e querida vingança dos que ficam! santo penhor da volta!"
Para onde? para qualquer parte. Para quê? para voltar depois, porque se volta melhor do que se foi; mais instruído, nem sempre; mais ensinado, sim. Pode-se não aprender nada novo, mas fica-se sabendo melhor o que já se sabia dantes.
E depois, no regresso, o prazer de chegar ... Que há aí no mundo que se lhe compare? (...)
Saudade! amorável e querida vingança dos que ficam! santo penhor da volta!"
Ramalho Ortigão, "Em Paris. Recuperação dos textos originais de 1868", Esfera do Caos, Colecção Esfera das Letras, 2006, p. 10.
2 comentários:
É sempre delicioso regressar!Quase tanto como partir...
Espero que tenhas tido um excelente fim-de-ano!
bjos
CSD
Como dizia Eça de Queiroz - ir a Paris e "tomar banhos de civilização". Ou, até, adaptando, ir a Paris e trazer na mala de eloquentes imagens!
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