domingo, janeiro 07, 2007

Early Night Post (15) ou Souvenir de Paris (III)

Bleu nuancé
"Vem um belo dia em que esta visão, esta miragem, este sonho, esta febre, esta doença, pode mais do que nós. A vida habitual pesa no nosso espírito como o trambolho no pé de uma galinha, dilatam-se-nos os pulmões, tresdobra-nos a vida, falta-nos o ar em nossas casas, falta-nos a água nas nossas fontes, falta-nos o espaço nas nossas ruas. A cidade então é pequena e o passeio é pouco. Quer-se a viagem, a liberdade a largueza da terra, a vastidão do mar e amplitude do céu – o mundo! Não há outro remédio nestes casos senão fazer o que eu fiz: arranjar a mala e partir.
Para onde? para qualquer parte. Para quê? para voltar depois, porque se volta melhor do que se foi; mais instruído, nem sempre; mais ensinado, sim. Pode-se não aprender nada novo, mas fica-se sabendo melhor o que já se sabia dantes.
E depois, no regresso, o prazer de chegar ... Que há aí no mundo que se lhe compare? (...)
Saudade! amorável e querida vingança dos que ficam! santo penhor da volta!"

Ramalho Ortigão, "Em Paris. Recuperação dos textos originais de 1868", Esfera do Caos, Colecção Esfera das Letras, 2006, p. 10.

2 comentários:

Claudia Sousa Dias disse...

É sempre delicioso regressar!Quase tanto como partir...

Espero que tenhas tido um excelente fim-de-ano!

bjos

CSD

Joaninha disse...

Como dizia Eça de Queiroz - ir a Paris e "tomar banhos de civilização". Ou, até, adaptando, ir a Paris e trazer na mala de eloquentes imagens!